sábado, 8 de junho de 2013

Turquia: não é a Primavera Árabe

O primeiro esclarecimento que quero fazer sobre a situação de revolta popular na Turquia é simples: não se trata de mais um capítulo da Primavera Árabe. Isso porque é preciso dizer que a Turquia não é um país árabe, mas, além desta observação semântica, é importante dizer também que as demandas são um pouco diferentes em relação aos movimentos populares que marcaram este início da segunda década do século 21.

Em países como Egito e Tunísia, havia a grande expectativa da população por mais abertura, eleições livres, imprensa de verdade e projetos de governo que dessem conta de crescimento econômico, inclusão e combate real ao desemprego. Na Turquia a economia é uma das que mais crescem no mundo todo (a expectativa para este ano é que o crescimento seja de 4%; no ano passado foi de 2,5% e, em 2011, incríveis 8,5%).

Além desses dados, as previsões são para lá de otimistas: o país deve ser a quarta maior economia europeia em 2050. Isso sem falar na questão geopolítica; se até o início deste século os turcos eram conhecidos pela rejeição institucional da União Europeia às tentativas do país de adesão ao bloco, hoje ninguém questiona o peso geopolítico de Ancara, principalmente na ponte que faz entre Oriente e Ocidente – os assuntos relativos à crise síria e as inúmeras tentativas de desmobilizar o programa nuclear iraniano são exemplos claros disso.

Escrevi tudo isso para dizer que a crise atual interna na Turquia tem mais similaridades com o movimento “Occupy” que fez protestos em dezenas de cidades nos dois últimos anos; um movimento marcante que tem mais a ver com mudanças exigidas pela classe média urbana intelectualizada e, no caso turco, críticas específicas às alianças políticas e fidelidades do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan . Nos próximos textos, desenvolvo mais este raciocínio.

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