Seria irresponsável de minha parte apontar culpados pela nova onda de atentados a alvos israelenses na Geórgia e na Índia. Do ponto de vista das autoridades de Israel, o Irã e a milícia xiita Hezbollah são os autores dos ataques. No contexto da guerra cada vez menos velada entre Israel e Irã, a troca de acusações mútuas não surpreende. De minha parte, cabe tentar recolher os fragmentos do que está acontecendo para tentar encontrar sinais.
Nesta terça-feira, três outras explosões deixaram quatro feridos na Tailândia (foto) quando um iraniano que carregava uma granada perdeu o controle do artefato, detonando-o na rua. Neste primeiro momento, parece que a chave para entender o que aconteceu está neste homem, identificado como Saeid Moradi.
Este espaço se dedica há quatro anos a tentar compreender os acontecimentos internacionais para além de propagandas e discursos. Por isso, vou tentar juntar alguns cacos. Os atentados em Nova Déli, na Índia, e Tbilisi, capital da Geórgia, apresentam características similares e ocorreram com minutos de diferença. Ou seja, é muito provável que tenham sido coordenados. Esta informação é importante, na medida em que afasta – a princípio – qualquer hipótese de uma eventual “coincidência”. Outro aspecto que deve ser levado em conta é a onda de atentados recentes a alvos israelenses na região. Autoridades Estado judeu em conjunto com forças de segurança tailandesas já haviam frustrado tentativas de ataques entre o final de 2011 e o início de 2012 – o mesmo aconteceu em Azerbaijão e Bulgária.
No caso específico do Azerbaijão, as informações são mais detalhadas. No último dia 17 de janeiro, o governo azeri prendeu três homens (um deles iraniano) acusados de planejar o assassinato do embaixador israelense em Baku – capital do Azerbaijão –, de um professor e de um rabino de uma escola judaica local. Segundo as acusações de autoridades azeris, a inteligência iraniana teria oferecido 100 mil euros pela execução do plano.
Ao mesmo tempo, desde janeiro de 2010, quatro cientistas iranianos envolvidos no programa nuclear foram mortos em circunstâncias ainda não esclarecidas: assassinados por motociclistas misteriosos em configurações que lembram muito as do atentado ao carro do diplomata israelense em Nova Déli. Ou seja, podemos estar testemunhando a guerra entre Israel e o Irã sendo pontualmente travada em campo neutro. Ninguém tem condições de afirmar onde isso vai dar, na medida em que qualquer país pode passar a palco de novas movimentações. A diferença, no entanto, é que Israel teria realizado os ataques no Irã, enquanto os iranianos têm agido no exterior. A resposta para esta questão está na dificuldade em realizar qualquer operação deste tipo em território israelense. Tailândia, Bulgária, Índia e Geórgia certamente são países onde os israelenses estão em posição muito mais vulnerável do que em Israel, obviamente.
A outra hipótese para explicar esta onda de atentados não está totalmente desvinculada do Irã. O Hezbollah, satélite dos iranianos na fronteira de Israel, estaria se vingando da morte de seu chefe de operações, Imad Mughniyeh, quatro anos atrás, em Damasco. A autoria do caso, que permanece sem solução formal, acabou por ser creditada aos israelenses. Mughniyeh era um dos acusados pelo atentado à Amia, a principal associação judaica de Buenos Aires, realizado em 1994, e que provocou a morte de 85 civis.
Como se vê, há muitos elementos nesta história intrincada de atentados, respostas e novos ataques. Certamente, é esta trama que explica os acontecimentos atuais. Ainda não se pode acusar este ou aquele grupo, estado ou força de segurança, mas as evidências apontam para o envolvimento dos interessados de sempre.
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