O programa nuclear iraniano tem sido interessante pelo menos sob um aspecto: ele tem descortinado boa parte das estratégias geopolíticas do Oriente Médio. As diretrizes políticas e militares dos governos – inclusive as do próprio Irã – têm sido reveladas. Basta somente prestar atenção aos acontecimentos. O último deles, e que teoricamente representa mais um passo dos iranianos rumo à concretização de seus planos atômicos, veio a público nesta quarta-feira.
Segundo a agência de notícias Fars, uma nova geração de centrífugas já está em operação na usina de Natanz, no centro do país. O ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, reagiu ao anúncio, classificando a apresentação dos resultados como um show cujo objetivo seria tornar a situação irreversível. Seu raciocínio está certo, pelo menos em parte. Quanto mais próximos os iranianos estiverem de atingir capacidade nuclear plena, menores serão as chances de ataque de Israel, por razões óbvias. Do ponto de vista de Barak, sua declaração é a única possível. Afinal, se o programa nuclear do Irã estiver tão avançado como afirma, o governo israelense terá falhado. Ao mesmo tempo, manter o assunto na ordem do dia é importante para Jerusalém.
Já comentei por aqui sobre a doutrina de segurança de Israel. A base é até muito simples: não permitir a qualquer vizinho atingir condição de igualdade militar capaz de representar ameaça ao Estado judeu. O que está em jogo neste momento também é a relativização desta diretriz que rege os sucessivos governos israelenses desde que o país passou a existir.
“Israel finalmente se vê diante de escolhas que EUA e Grã-Bretanha precisaram fazer mais de seis décadas atrás. Espero que (Israel) passe a reconhecer que segurança absoluta é algo impossível de ser atingido na era nuclear”, escreve Gideon Rose, editor da prestigiada Foreign Affairs. Entendo o que ele quer dizer com este raciocínio, mas acho que é preciso ser mais claro; quando pede para Israel aceitar a situação do jeito como está – e possivelmente a evolução atômica iraniana – Rose está, na prática, pedindo que os israelenses aceitem a maior derrota militar de sua história.
A importância do que está em jogo foi notada por muito pouca gente. Se o programa nuclear iraniano forçar os israelenses a mudar sua principal doutrina de segurança, Teerã já terá vencido. Resta saber agora como a cúpula política e militar de Israel se comportará diante disso. Neste momento, a escolha me parece bastante clara (e difícil): Benjamin Netanyahu será lembrado como alguém que iniciou uma nova e sangrenta guerra no Oriente Médio para frear os planos do Irã ou será o primeiro-ministro que aceitou flexibilizar a diretriz histórica do Estado judeu? E, ao optar por esta última opção, irá se tornar o dirigente que levou Israel ao patamar de maior vulnerabilidade em todos os tempos.
Um comentário:
O Irã sendo dotado de tecnologia nuclear (e com condições de fabricar a bomba) pode indicar o início de um equilíbrio de forças necessário (e urgente) na região e que "mela" a ambição de dominação plena por parte de Israel e seus aliados ocidentais. Acho que é benéfico para todos que aspiram pela paz e uma péssima notícia para os fomentadores de desgraças (indústria bélica) alheias, principalmente dos EUA e membros da OTAN.
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