E no retorno oficial do carnaval, as discussões acaloradas sobre o programa nuclear iraniano estão cada vez mais quentes, como não poderia deixar de ser. Apesar dos esforços internacionais para entender em que fase Teerã se encontra exatamente, o que existe, de fato, é uma crise aguda de desinformação. Há novidades, muitas delas aliás, mas não consenso quanto às etapas cumpridas pela República Islâmica em sua busca por armamento atômico.
Enquanto governos e organismos multilaterais não chegam a qualquer conclusão mais precisa, o WikiLeaks – este ator não-estatal recente e poderoso – joga mais lenha na fogueira ao divulgar cinco milhões de e-mails da empresa de análise privada americana Stratfor. Uma das revelações que mais chamaram a atenção é uma conversa interna entre funcionários da companhia datada de novembro de 2011. Nela, a discussão sobre o Irã adquire cores novas quando dois analistas da empresa citam uma fonte que teria dito que os preparativos de Israel para uma ofensiva militar não passariam de um desvio “uma vez que os israelenses já destruíram toda a infraestrutura nuclear existente semanas atrás”.
A partir daí, os funcionários do Stratfor passaram a imaginar os cenários que teriam tornado tal plano possível: uma ação conjunta com guerrilheiros curdos ou conduzida por judeus iranianos que teriam emigrado para Israel. Seja como for, uma revelação desta gravidade seria capaz de mudar completamente o cenário mundial. No entanto, é preciso calma antes de tomá-la como verdadeira, principalmente por conta de alguns fatores:
Se de fato Israel tivesse conseguido levar a cabo tal empreitada, é estranho imaginar que o Irã agisse como se nada tivesse acontecido. A ausência de retaliações na mesma intensidade só seria explicada caso os agentes israelenses tivessem obtido sucesso total e desmoralizante – o que significaria destruir as instalações nucleares sem causar morte de civis, algo bastante improvável devido ao tamanho das usinas iranianas e da complexidade militar envolvida em sua anulação total.
Não creio na veracidade da revelação divulgada pelo WikiLeaks também por outras razões. A guerra entre Irã e Israel é um dos conflitos militares mais estudados antes mesmo de ele acontecer de fato. Digo isso porque, na prática, todo mundo já sabe os passos seguintes após a primeira onda de ataques às usinas nucleares iranianas. A República Islâmica irá fechar o estreito de Ormuz e mobilizar seus aliados nas fronteiras com Israel. Ou seja, Hamas e Hezbollah certamente atacarão o território do Estado judeu com centenas de mísseis. Essas medidas são conhecidas e seria muito improvável que os iranianos não adotassem nenhuma delas caso toda sua infraestrutura nuclear tivesse sido destruída por Israel.
Na verdade, o momento atual é exatamente o oposto ao do suposto sucesso de uma ofensiva israelense. A batalha atual é entre aliados: Benjamin Netanyahu e Ehud Barak tentam convencer o governo Barack Obama quanto aos avanços do Irã. Se o assunto já estivesse resolvido, o desgaste político de agora – e certamente o desgaste financeiro, militar, político e humano que uma guerra causaria – seria certamente evitado pelas autoridades de Jerusalém.
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