terça-feira, 2 de outubro de 2012

A aparente conciliação de Israel e EUA; a ingenuidade republicana


Aparentemente, a situação de embate entre Israel e os EUA está controlada. Ou melhor, adiada até as eleições americanas. Como escrevi no último post, o discurso de Netanyahu na ONU foi redigido com alguns objetivos; um dos mais importantes, certamente, foi baixar o tom das críticas aos americanos principalmente porque as declarações oficiais caminhavam rumo a um confronto teórico mais grave, possivelmente o maior entre os aliados. 

Vale lembrar que Benjamin Netanyahu chegou a fazer declarações públicas fortes contra Washington: “países que se recusam a estabelecer uma linha vermelha sobre (o programa nuclear do) Irã não têm direito moral de colocar uma luz vermelha diante de Israel”. Esta é uma crítica aberta à recusa de Obama de fixar uma data limite para as pretensões iranianas e também de o presidente impedir um ataque israelense a Teerã. Agora, no entanto, todo este clima de discordância parece amenizado. Muito por conta do discurso do primeiro-ministro Netanyahu na ONU, que lhe rendeu, inclusive, uma conferência telefônica menos tensa com Obama na última sexta-feira. O presidente e candidato teve de passar por cima de sua antipatia pessoal ao líder israelense em nome da aliança entre os países e, claro, por conta da promessa de Bibi de não seguir adiante com qualquer plano militar para interromper o programa nuclear iraniano pelo menos até o final deste ano. 

Enquanto isso, a disputa eleitoral americana segue no mesmo compasso de muitas discordâncias entre Obama e Romney. E se os lados já discordavam conceitualmente em tudo – principalmente no ponto mais importante da corrida presidencial, a solução da crise e os muitos problemas domésticos dos EUA – , a política externa se transformou num nicho de mercado a Romney. A visão Republicana sobre o assunto é tão ingênua – ou melhor, propositalmente simplista – que repete os mesmos paradigmas aplicados aos demais temas da campanha. Como bem escreveu o colunista do New York Times Roger Cohen, tudo parece se resumir “à falta de vontade” do presidente. Ela é a fonte de boa parte das críticas dos republicanos, ignorando toda a complexidade do mundo atual. 

Eu diria mais: por vezes, a eleição americana parece uma grande competição cujo objetivo é convencer os eleitores sobre quem é o mais patriota. A agenda republicana “sequestrada” pelo Tea Party resume o debate a uma espécie de disputa em que está em jogo provar a capacidade do candidato de demonstrar “amor” pelo país, pelos “valores americanos” e até mesmo por Deus; e, claro, ódio pelo governo. Os republicanos abriram mão de ter candidatos prontos a apresentar propostas e pensar em soluções, optando por satisfazer a ala mais radical do partido e que está preocupada simplesmente em eleger alguém que preencha uma lista de pré-requisitos conceituais e um tanto simplistas. 

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