quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Romney disfarçado e o possível confronto de 2016


A corrida presidencial norte-americana está empatada. Isso nos garante um final realmente emocionante e, como já ocorreu, possivelmente algum erro de contagem. Penso que, o que quer que aconteça, Romney já conseguiu alcançar um objetivo muito interessante nesta campanha: esconder sua verdadeira natureza radical e do grupo que sustenta sua candidatura. E esta vitória é ainda mais relevante quando levamos em consideração o vídeo vazado que tinha potencial para pôr na geladeira sua carreira política. 

Os assessores de Romney são realmente geniais. Nos debates, o candidato optou por perder nos argumentos, mas ressaltar sua postura de homem gentil. Mesmo quando bateu em Obama, sorriu. Mas, para lembrar, o próximo possível presidente dos EUA é um homem conservador e apoiado pelo Tea Party, a ala mais radical do Partido Republicano e cuja força nos últimos cinco anos tem mostrado que o grupo é um fator de mudança no cenário político norte-americano. Há quem considere, inclusive, a possibilidade de cisão interna e ruptura. Acho isso bem possível, mas com a tomada mesmo do Partido Republicano. 

A campanha de Romney quis jogar para debaixo do tapete quem o candidato realmente é. A reforma da imigração, por exemplo, é um assunto superimportante, mas quase não tem sido mencionado. Aliás, a estratégia dos republicanos aplica a seguinte lógica: há poucas propostas, mas sobram críticas a Obama. Se há crise econômica e desemprego, basta esquecer que Obama recebeu-a de presente do governo Bush. Ou melhor, provocar esquecimento. 

A imigração é um tema tão importante que pode mudar os EUA. Estimativas dão conta que, em 2040, a população latina já será maioria no país. Este fator leva a algumas reflexões: o Tea Party se distancia dos latinos; os republicanos aumentam a virulência do discurso. Romney foi o pré-candidato republicano mais agressivo contra a imigração durante as primárias. Este não é apenas seu modo de ver o assunto, mas uma tendência partidária. Ou os republicanos irão rever a maneira como se dirigem ao eleitorado latino ou estarão fadados ao fracasso. Como nos últimos cinco anos o Tea Party tem seguido uma trajetória de discurso ainda menos conciliatória, não me parece que, ao garantir Romney na presidência, o bloco radical assuma qualquer recuo. Muito pelo contrário. 

Já pensando nas eleições de 2016, o eleitorado latino tenderá a ser um nicho ainda mais Democrata: o descontentamento com o presidente Romney – e com um congresso majoritariamente republicano – poderá deixar o caminho aberto para o retorno de um presidente democrata. Tudo isso, é claro, se Obama perder agora. Mas acredito que a variável de agressividade do Tea Party permaneça inalterada seja qual for o resultado dessas eleições. 

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