Mais uma vez, o mundo parou para assistir ao debate entre os candidatos à presidência dos EUA. Isso é justificável, na medida em que a disputa pela Casa Branca envolve direta ou indiretamente interesses de todos os países e também das muitas e distintas fidelidades ideológicas – inclusive os que se opõem aos americanos. No entanto, ao contrário do encontro anterior, o que era esperado aconteceu: o presidente Obama voltou a colocar em prática o poder de retórica e argumentação que causou reviravolta no cenário internacional quatro anos atrás.
Para quem não se lembra, a campanha presidencial de Obama em 2008 teve um de seus pontos altos em Berlim. Na Alemanha, o atual presidente conseguiu reunir 90 mil pessoas para vê-lo discursar. Isso não é para qualquer líder estrangeiro. E não porque se trata da Alemanha, mas há pouca gente no mundo de hoje capaz de reunir uma multidão em território estrangeiro. E não estamos falando de Lady Gaga, mas de um político.
Voltando ao debate da noite de terça-feira é importante deixar claro que, sim, Obama foi o vencedor da disputa desta noite. Mas, mesmo aos otimistas, é preciso retornar à serenidade. Romney deu o chamado nó tático no encontro anterior e o fato de o presidente ter tido um desempenho realmente melhor dessa vez não garante nada. O que ocorreu foi simplesmente uma sacolejada na campanha morna de Obama. Mas ainda fico impressionado pelo presidente – então um fenômeno de retórica e carisma – não conseguir mostrar a desenvoltura que lhe é particular. No fundo, Obama me parece constrangido pela obrigação de ter de debater com alguém cujos valores são realmente tão diferentes dos seus – e para pior, é bom dizer.
A simples presença de alguém como Romney desafiando-o na disputa presidencial parece ofender o presidente. Romney argumenta que está ao lado da “família americana”; Romney usa como ponto favorável no debate presidencial o fato de ter servido como pastor de sua congregação cristã durante duas décadas (estamos falando da disputa pelo cargo político mais importante do planeta), Romney defende o aumento da exploração de petróleo e deixa de lado o investimento em energias alternativas, Romney considera que 47% dos americanos não têm responsabilidade sobre as próprias vidas e se vitimizam para receber auxílio do governo, Romney fez dinheiro em sua vida profissional cuidando do fechamento de fábricas e, por consequência, acabando com inúmeros postos de trabalho. E por aí vai.
E, segundo pesquisas, Romney está tecnicamente empatado com Obama. Na prática, tenho a sensação de que o presidente americano ainda não acredita que, com todas as credenciais descritas acima, alguém como Mitt Romney seja capaz de derrotá-lo. Isso causa frustração, revolta e incredulidade a Barack Obama. Isso fere todos os seus valores e crenças pessoais. Isso o decepciona como cidadão americano. E tudo isso junto tem sido responsável pela impaciência e pelo congelamento do presidente. Ele precisou perder o primeiro debate para conseguir agir. A possibilidade de perder a presidência para alguém como Mitt Romney é algo que Obama, assim como boa parte das pessoas que acompanham as eleições americanas no exterior, não consegue compreender. E essa incompreensão pode ser a principal responsável pela eventual derrota em novembro.
Um comentário:
Caro, Henry.
Seria interessante escrever um texto de "futurologia" prevendo o cenário da política internacional com uma hipotética vitória de Romney.
Abraços do leitor,
Tiago
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