O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi reeleito para seu quarto mandato. Ocupando o cargo executivo mais alto do país desde 1999, está no poder há quase 14 anos. Declaradamente, diz que quer continuar presidente até 2031, o que permitiria a ele bater o recorde de Hosni Mubarak, presidente deposto pela Primavera Árabe egípcia. Se por um lado as seguidas reeleições de Chávez são limpas – do ponto de vista da legislação venezuelana –, fica difícil entender como alguém verdadeiramente democrático possa pretender ocupar a presidência por mais de 30 anos.
Este projeto político que não prevê sucessor para os próximos 19 anos é suspeito. Repito: a eleição foi limpa, o adversário Henrique Capriles admitiu a derrota e, mais importante, o voto no país não é obrigatório. Aliás, o comparecimento voluntário de 80% dos eleitores mostra uma intensa participação política. No caso venezuelano, com um cenário polarizado e de alta tensão, a adesão popular envolve uma forte militância. Se isso pode ser interpretado positivamente por um lado, por outro, a paixão partidária – absolutamente centralizada na figura de Chávez – provoca um embate que vai muito além do debate. Na última semana, três militantes de Capriles foram mortos.
Agora, o tom conciliatório adotado por ambos os candidatos é muito contrastante com a violência física e retórica dos dias de campanha. Chávez foi agredido verbalmente por Capriles. Chávez chamou Capriles de “porco”, “fascista” e “medíocre”. A irresponsabilidade desta agressividade mútua inevitavelmente é reproduzida pela militância nas ruas. O presidente agora diz querer conversar com a oposição e contar com apoio amplo para resolver os problemas do país. E é bom lembrar que eles não são poucos: hoje, a Venezuela tem a taxa de homicídio mais alta entre os países da América do Sul (podendo chegar a 70 por 100 mil habitantes ainda neste ano – segundo a ONU, o índice aceitável é de dez para cada grupo de 100 mil) e uma das taxas de inflação mais altas do mundo (cerca de 18% ao ano). Além disso, sofre com a falta de produtos essenciais e também com apagões de energia diários.
A revolução que Chávez diz fazer na Venezuela está, segundo ele, mais preocupada com a ascensão social da população mais pobre. Pelo resultado das urnas, a maioria quer continuar com este projeto. No entanto, a diferença percentual entre os seguidores do presidente e a oposição está caindo a cada eleição. A vitória por dez pontos é a menor vantagem alcançada desde 2006 – quando obteve a expressiva diferença de 26 pontos percentuais. Naturalmente, acho que, também por conta de seu estado de saúde (um câncer misterioso no abdome), a tendência deste mandato é de mais conciliação e pragmatismo. Chávez sabe que é preciso resolver os problemas práticos do país e atender a uma grande parcela cada vez mais insatisfeita com as lacunas da revolução bolivariana.
PS: o presidente Chávez disse que, se votasse nos EUA, escolheria como candidato o presidente Barack Obama. Como os republicanos têm insistido nas críticas à política externa de Obama, não duvido nada que a declaração do líder venezuelano seja usada como combustível para as associações que o Tea Party tem feito entre Obama e o “socialismo”.
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