No ultimo dia 19 de dezembro, escrevi um post específico sobre Chuck Hagel. Na época, o ex-senador republicano encabeçava a lista dos nomes cotados para substituir Leon Panetta como secretário de Defesa. Nesta segunda-feira, Hagel foi confirmado pelo presidente Obama como o próximo homem forte do Pentágono. Além de todas as muitas polêmicas envolvidas na escolha, há algumas mensagens importantes que exigem uma análise menos superficial.
O ponto fundamental diz respeito ao significado da nomeação. Já reeleito e com quatro derradeiros anos pela frente, Obama parece estar disposto a se permitir mais ousadia internacional do que em seu primeiro mandato. Admirado internacionalmente e ganhador do prêmio Nobel da paz sem ter feito nada de espetacular, o presidente conseguiu durante sua primeira campanha como candidato convencer a opinião pública americana e mundial de que poderia ser o líder político da mudança. Considerando o cargo a que postulava, sua própria biografia, poder de retórica e o conservadorismo do ex-presidente Bush, não foi muito difícil criar grandes expectativas. Nos primeiros quatro anos de mandato, no entanto, não conseguiu grandes conquistas internacionais que justificassem a intensidade dessas mesmas expectativas.
Hagel não carrega intrinsecamente qualquer garantia de mudança de rumos. Por exemplo, sob o ponto de vista latino-americano, vale dizer que a região ficou praticamente esquecida durante os primeiros quatro anos de Obama, a não ser pelo rápido giro do presidente por poucos países da América Central e do Sul em 2011. Mas o possível novo secretário de Defesa – que ainda precisa da aprovação do Senado – é uma resposta a alguns desafios que os EUA enfrentarão neste novo ano. Hagel é abertamente contrário a um ataque militar para impedir o prosseguimento do programa nuclear iraniano. Sua escolha para o Pentágono pode sim ser interpretada como um balde de água fria em Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel e desafeto conhecido de Obama. Um dos momentos marcantes no ano passado foi o discurso do líder israelense dizendo que, entre março e junho de 2013, os iranianos alcançariam o último estágio para a obtenção de capacidade atômica. Hagel no Pentágono apenas reafirma a falta de disposição do presidente americano de se juntar ao governo israelense numa eventual empreitada militar.
Se por este lado a escolha do ex-senador republicano pode parecer um rompimento com Israel, é importante dizer que os laços que unem Washington e Jerusalém vão muito além de disputas políticas pontuais ou mesmo discordâncias estratégicas; como afirmou o ex-primeiro-ministro e ex-ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, a cooperação militar e de inteligência entre os dois países nunca foi tão profunda quanto no período em que Obama é presidente dos EUA. Por isso, considerando o histórico negativo do relacionamento pessoal entre o presidente americano e o atual primeiro-ministro de Israel – que caminha para vencer as eleições israelenses a serem realizadas no final deste mês –, a ideia de colocar num cargo-chave de defesa alguém que questiona o projeto de ataque ao Irã soa como contraponto direto a Benjamin Netanyahu.
No entanto, há um ponto de contradição nas análises que têm sido feitas. Por um lado, muita gente tem escrito que a nomeação de Hagel é fruto de uma decisão técnica, uma vez que possui currículo de atuação militar importante e supostamente consegue distanciar os posicionamentos políticos das decisões práticas; mas, curiosamente, entre todos os candidatos, ele foi o que mais se expôs política e ideologicamente nos últimos anos. Acho que a escolha se resume a este último aspecto mesmo.
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