Fontes oficiais americanas confirmam que os EUA pretendem retirar todas as suas tropas do Afeganistão logo depois da desocupação oficial das forças da Otan (a aliança militar ocidental) marcada para o ano que vem. Esta informação é um sinal de como deve ser a gestão internacional neste segundo mandato do presidente Obama.
Há no momento muita discussão sobre as diretrizes da política externa de Washington. As escolhas de Chuck Hagel, para o Pentágono, e John Kerry, para a Secretaria de Estado, apontam os caminhos pretendidos pelos presidente. Se os anos de Bush foram marcados pelas ofensivas no Afeganistão e no Iraque, o primeiro mandato de Obama não representou um rompimento com este padrão definido por muita gente como de “episódios aventureiros e gerenciamento de crises”. Por mais que seja um tanto abrangente, esta definição faz sim algum sentido.
Mas, juntando os primeiros sinais deste início de janeiro, é possível perceber que a Casa Branca está mudando os rumos. Se Hagel e Kerry ganharam seus cargos por boas doses de exposição ideológica, o presidente tende a transformar esta ideologia numa prática mais conservadora. E me refiro a este termo em seu uso corrente aqui no Brasil; as “aventuras” internacionais serão evitadas ao máximo, e a cúpula do governo vai pensar bastante antes de tomar qualquer decisão mais contundente para além de suas fronteiras. Obama, Hegel e Kerry estudarão cada caso com muita cautela e, nos bastidores, vão trabalhar para enxugar os custos de ações internacionais. A austeridade econômica que o momento exige também será, em grande parte, um guia para a política externa. Os EUA devem se comportar como alguém que gastou demais no cartão de crédito e precisa pagar as parcelas restantes antes de iniciar novas aquisições.
Por isso, os cargos-chave neste mandato serão ocupados por pessoas que concordam com a posição original de Obama de que a guerra deve ser usada como último recurso. E, mesmo assim, para proteger os próprios americanos, deixando aliados estratégico um tanto frustrados. Esta posição realista não se estende somente a Israel, caso mais emblemático dos dilemas muito próximos aos EUA, mas também aos rebeldes sírios – que chegaram a uma situação de impasse na guerra que travam contra as forças de Bashar al-Assad porque a ajuda militar ocidental (em grande parte americana) não vai chegar.
“O legado da Guerra do Iraque ainda domina a política externa dos EUA”, escreve Robert D. Kaplan, analista-chefe do Stratfor. É isso mesmo. E quando Kaplan diz isso se refere ao temor de uma nova empreitada no Oriente Médio duradoura, cara e traumática. Obama foi contrário à Guerra do Iraque. A estipulação de prazos claros para encerrar a presença no Afeganistão mostra o quanto o presidente americano pretende retomar os objetivos originais da invasão ao país, em 2001. A resposta aos ataques de 11 de Setembro tinha como objetivo simplesmente impedir que o Afeganistão prosseguisse como território livre e seguro para a al-Qaeda. Como na prática os desafios de acabar com a presença do grupo terrorista no país se mostraram muito mais complexos do que se previa originalmente, a Casa Branca se viu afundada em algo impossível de se concretizar: a construção de um país seguro, livre e democrático. O tipo de desafio que Obama não quer enfrentar.
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