quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Há Futuro em Israel


Agora que o processo eleitoral terminou em Israel, é hora de os partidos exercerem toda a capacidade de organização, convencimento mútuo, articulação e negociação de bastidores para que, finalmente, um novo governo passe a existir. O resultado final do pleito foi positivo porque mostrou que a sociedade está preocupada com questões práticas e exige do primeiro-ministro responsabilidade sobre elas. No meio da confusão deste sistema de governo israelense, este é um ponto positivo; a diluição de poder entre os partidos e a necessidade de construção de uma maioria política por meio de articulações transforma votos em demandas diretas. 

O principal aspecto disso tudo é o surgimento de um novo partido, o Yesh Atid (Há Futuro), do jornalista Yair Lapid. A legenda nasce poderosa já em sua primeira eleição. A grande sacada de Lapid e de seus correligionários é a leitura perfeita da sociedade israelense em seu dia a dia. Lembram-se da ocupação das ruas de Tel Aviv por gente comum que decidiu acampar para protestar contra o alto custo de vida e moradia? Pois é. Este é o que se pode chamar de “nicho de mercado” desta nova legenda; a população comum, a classe média insatisfeita com a política econômica de Netanyahu que produziu crescimento considerável mas fez uma mudança profunda na sociedade, aumentando a distância entre os muito ricos e muito pobres, diminuindo o poder de compra e a qualidade de vida – pilares históricos do Estado. 

Benjamin Netanyahu sentou sobre o cargo e a coalizão com o Israel Beiteinu, de Avigdor Lieberman. Em vez de se debruçar sobre questões práticas, preferiu fazer uso de sua enorme habilidade de articulação de bastidores. O problema para ele é que em Israel todos os cidadãos votam, não somente os membros do Knesset ou as lideranças políticas. Bibi fez vista grossa para a maior parte das muitas questões que os israelenses enfrentam, optando por se dedicar a assuntos que ele considera maiores, como o Irã. E aí pagou o preço por apostar que as pessoas estão mais preocupadas com Ahmadinejad do que com emprego, renda e moradia. Resultado: seu partido, o Likud, que antes tinha 27 assentos no Knesset, agora tem 20. O recém-criado Yesh Atid, de Lapid, tem 19. 

As dificuldades de renovação da cena política local levaram o eleitorado a apostar em nomes com pouca ou nenhuma tradição política. E aí isso também explica o sucesso de Lapid e seus companheiros, identificados com alguma razão como “profissionais liberais que decidiram entrar na política para mudar a situação”. E tudo isso deve dar um certo frescor ao próximo governo, mesmo com Netanyahu. A novidade deve ser acompanhada por demandas do Yesh Atid, como o fim da isenção aos judeus ortodoxos de cumprimento do serviço militar e a retomada do processo de paz (pontos que o novo partido considera inegociáveis). A ideia de Bibi de que poderia governar novamente deixando esses assuntos de lado parece eliminada – pelo menos se quiser contar com as 19 cadeiras conquistadas por Lapid.

Nenhum comentário: