Começo o texto de hoje com uma frase importante dita por Ulisses Guimarães, um dos articuladores do movimento Diretas Já: "a única coisa que mete medo em político é o povo nas ruas". Nada mais explicativo neste momento. O post de hoje é direto e minha ideia é fazer uma análise menos passional sobre os acontecimentos desses dias.
Os protestos no Brasil têm um pouco de Primavera Árabe e dos movimentos Occupy que se espalharam pelo mundo, mas as características brasileiras tornam as manifestações daqui bem diferentes desses grandes "ícones" internacionais recentes.
Um ponto importante diz respeito aos objetivos finais. No caso de Egito e Tunísia, por exemplo, o objetivo principal dos manifestantes era derrubar os ditadores locais e, principalmente, mudar o sistema de governo, instaurando uma democracia em seus pilares fundamentais: eleições limpas, rotatividade de poder, imprensa livre e independente etc. Por aqui, as necessidades são outras; por mais que haja muitas razões para protestar, ninguém questiona que a democracia é o único regime de governo aceitável.
Percebo que existe uma tentativa de focar os protestos em temas centrais que já podemos identificar: o alto custo de vida, os gastos exorbitantes com a construção de estádios para a copa do mundo e a demanda por serviços públicos de qualidade. Como escrevi antes e como todo mundo já percebeu, o aumento das tarifas de ônibus serviu como estopim das manifestações. No fim das contas, a grande luta é contra a própria natureza do Estado brasileiro - e isso já inclui corrupção, recorrentes práticas de superfaturamento e alianças promíscuas entre interesses públicos e privados.
Tudo isso explica também porque as pessoas têm rejeitado levantar bandeiras de partidos políticos; primeiro porque nenhum partido político está isento de críticas (todos já escorregaram feio em algum ou em vários dos itens listados acima) e segundo porque as pessoas estão insatisfeitas com o trabalho prático desses partidos e entendem que eles têm falhado gravemente em sua missão primordial: representar seus eleitores de forma digna.
É impossível prever o que vai acontecer daqui para frente. Como também escrevi anteriormente, o fato é que as manifestações alcançaram um peso político inigualável. Por serem dispersas, com muitas bandeiras e dissipadas por grandes e pequenas cidades brasileiras, são naturalmente e majoritariamente representativas. Ou seja, a naturalidade com que passaram a representar grande parcela do povo brasileiro transformaram as passeatas em movimentos orgânicos que não poderão ser minimamente igualados, contestados ou mesmo apropriados por qualquer partido político tradicional.
Um comentário:
Excelentes argumentos, Galsky! Lindo texto!
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