Já ao término desta crise na Ucrânia, duas pesquisas sobre aprovação popular aos presidentes Putin e Obama dão uma ideia interessante sobre como os cidadãos comuns de Rússia e EUA interpretaram a atuação de suas lideranças políticas.
Levantamento do All-Russian Center for Public Opinion mostra que a aprovação a Putin chegou a 71,6%, o maior índice desde que ele retornou (ou retomou, o que também é apropriado) à presidência, em 2012. Já nos EUA, de acordo com pesquisa da CBS News, o trabalho de Obama especificamente na área de política externa é aprovado por somente 36% dos entrevistados. É importante dizer que os dois levantamentos têm naturezas distintas: o russo quis saber a aprovação de Putin, o americano estava interessado somente na avaliação da política externa do presidente Obama.
De qualquer maneira, achei curioso comparar os índices, mesmo com essas diferenças. Até porque, no caso de Putin, o apoio a seu governo e a ideia positiva que os russos passaram a ter dele derivam diretamente de dois eventos intimamente relacionados aos assuntos internacionais: a realização das olimpíadas de inverno e, claro, a anexação da Crimeia e todo o discurso nacionalista que, segundo Putin, serviu para justificar este grande passo geopolítico.
A interpretação das respostas dos entrevistados russos é bem mais simples, considerando o ambiente de “defesa da identidade russa contra a ambição ocidental”. Foi essa a campanha governamental e também da imprensa aliada ao Kremlin. O discurso foi poderoso e eficiente o bastante para conquistar os corações de maior parte da população russa. O sucesso desta empreitada está refletido neste índice de apoio a Putin. O caso americano é mais complexo, mas é possível explicá-lo. Diante das últimas ações internacionais americanas (guerras de Iraque e Afeganistão e intervenção na Líbia), os cidadãos americanos consideraram ter pago um preço alto demais (financeiro e humano) para tratar de assuntos que não dizem respeito aos EUA.
Basicamente, a Ucrânia é mais um caso similar. Independente do que seu governo faça, os americanos continuam a ver a Ucrânia e a Crimeia (assim como já aconteceu com Iraque, Afeganistão e Líbia) como questões distantes e com possibilidade de, novamente, serem forçados a pagar um preço alto demais por algo com que não se identificam. Obama ainda sofre com índices baixos de aprovação quando o assunto é política internacional em função deste passado recente do início do século 21.