Escrevi na última segunda-feira sobre o temor da Polônia a partir da crise da Crimeia. O país é um dos mais interessados nos desdobramentos, porque se considera ameaçado pelas próximas ações russas.
Não por acaso, foi justamente em Varsóvia que o vice-presidente americano, Joe Biden, esteve no começo de um giro pela Europa oriental de forma a garantir aos aliados que eles estão sob proteção. Por mais que haja promessas, envio de aviões de combate e treinamentos militares conjuntos, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, reforçou o posicionamento geopolítico de seu país: “este desafio que estamos enfrentando não vai durar um mês ou um ano. Estamos diante de uma perspectiva estratégica para muitos anos que virão”. Como escrevi no texto de segunda, a Polônia não considera a Rússia uma ameaça passageira, mas um incômodo permanente cujas ambições, cedo ou tarde, entrarão em conflito com os interesses poloneses.
Os EUA sabem disso. Da mesma forma, querem evitar um conflito a todo custo com os russos. Pragmaticamente, neste momento, EUA e União Europeia pensam numa maneira de passar adiante a crise da Crimeia sem que se consolide a imagem de que a Rússia pode fazer o que bem entender. O primeiro passo já foi dado nesta terça-feira mesmo. Joe Biden disse que “o compromisso americano de defender seus aliados da Otan é ‘ironclad’ (termo que significa puramente “recoberto de ferro”. Dá ideia de um compromisso que não será rompido em qualquer tempo)”. O vice-presidente disse ainda que americanos e europeus esperam que a Otan saia ainda mais fortalecida após a crise atual. Deu para entender a mensagem?
Na prática, este foi um aviso a quem quiser entender de que EUA e UE não estão dispostos a uma guerra com a Rússia. O que é uma decisão absolutamente racional, na medida em que europeus e americanos têm se dedicado neste século a travar guerras duras, caras e que têm se tornado cada vez mais difíceis de serem pagas e justificadas em seus próprios países. E disse que a declaração de Biden foi um recado claro por uma razão simples: o fortalecimento da Otan tem a ver com os aliados americanos na Europa oriental, mas não com a Ucrânia. E isso porque, para azar do atual governo ucraniano, o país não é membro da Otan. Então, na prática, o que UE e EUA estão fazendo é deixando claro quais os limites de atuação de Putin. Se a tomada da Crimeia foi inevitável, que ele se contente com este território e não se aventure sobre os aliados do ocidente na região.
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