Durante este processo todo na Ucrânia, é interessante notar como questões existenciais europeias voltaram a ser usadas com toda força para justificar este ou aquele lado. Desde o começo, Putin fez de tudo para convencer a opinião pública russa de que grupos nazistas eram os verdadeiros responsáveis pela derrubada do presidente ucraniano. Para o presidente russo, as potências ocidentais estavam iludidas ou pouco esclarecidas, mas, principalmente, estavam dispostas a qualquer aliança para impedir a aproximação da Ucrânia com a Rússia.
Escrevi sobre a participação de grupos neonazistas na violência da praça Maidan, em Kiev. De acordo com os opositores locais ao nazismo, os anarquistas, os nazistas correspondiam a no máximo 30% do contingente envolvido nos protestos. E, claro, a maior parte dos manifestantes nada tinha a ver com isso e suas demandas políticas eram independentes do discurso da extrema-direita. A polarização foi a maneira encontrada por Putin para defender sua atuação. E foi o argumento comprado também pela imprensa russa comprometida com seu presidente. Como observação, é importante deixar claro que o presidente russo costuma fechar os olhos para eventuais desaparecimentos de jornalistas que, obviamente, se equivocam ao se opor ao governo.
Ainda em relação à memória da Segunda Guerra Mundial e sua influência na análise dos acontecimentos na Crimeia, é interessante ver o outro lado. Enquanto Putin busca justificar as ações russas como forma de contenção ao que considera papel central do nazismo na política ucraniana, o historiador, jornalista e escritor britânico Max Hastings faz o oposto; as ambições de hitler e o histórico da guerra são pilares para questionar a política russa atual:
“Sejam quais forem os argumentos para (defender) a secessão da Crimeia – e alguns são válidos –, a agressão armada de Putin, sob ameaças de mais (intervenções), se amparam exatamente nos mesmos argumentos usados por hitler para justificar suas investidas sobre Checoslováquia e Polônia em 1938-39”.
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