A jornalista Beatriz Borges, do espanhol El País, teve a brilhante inspiração de chamar os acontecimentos desta quinta-feira, na abertura da Copa, de Maracanazo político. O termo é referência à maior tragédia esportiva brasileira: a derrota na final de 1950, no Maracanã, para o Uruguai.
Os xingamentos à presidente Dilma ainda reverberam. Isso porque, desde o ano passado, o país vive o processo de convulsão social iniciado nas manifestações de junho. Hoje, a natureza do movimento mudou. O Brasil ainda esboça conclusões sobre os acontecimentos e está dividido. Às vésperas das eleições presidenciais, a sociedade começa a se preparar para uma campanha que promete ser dura e, claro, suja.
No Itaquerão, assistimos ao espetáculo patético de uma parcela da população que não representa a maioria dos brasileiros. A livre manifestação é uma conquista da democracia. O xingamento à presidente é um atentado ao cargo. Por consequência, um ataque à própria democracia. E digo isso com a certeza de fazer justiça, uma vez que esta também foi minha posição no final dos anos 1990 durante o movimento “Fora FHC”.
Mas acho que ninguém é inocente o bastante para ignorar que tipo de público ocupava a maioria dos assentos do estádio. A arquibancada branca ostentando óculos de marca e camisas oficiais não é um retrato do Brasil, mas de uma parcela da elite que não se cansa de criticar a falta de educação do povo brasileiro, mas não pensa duas vezes antes de mandar a presidente tomar no.
Para sorte deste pessoal, é pouco provável que Dilma inicie uma campanha de invasão a domicílios e empresas surrupiando computadores daqueles que a ofendem. Ao contrário deste aqui.
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