Dessa vez, passo rapidamente por mais um assunto que tem sido ignorado por aqui. No dia 18 de setembro, a Escócia pode decidir oficialmente se separar do Reino Unido. A imprensa daqui tem todos os motivos do mundo para não dar a menor importância a isso, mas quero abordar o tema de uma maneira mais ampla.
A Escócia é parte do Reino Unido desde 1707. A ideia de independência não é nova, mas dessa vez é chegada a hora da decisão. Este movimento passa a ter alguma importância porque reflete o momento de reconstrução das identidades e da geopolítica europeias já com meia década transcorrida da crise. Os Estados nacionais estão enfraquecidos e questionados porque não conseguiram apresentar soluções satisfatórias às pessoas comuns. O nacionalismo tende a ser visto com mais boa vontade em tempos assim. Foi o que mostraram também os resultados das eleições recentes ao Parlamento Europeu sobre as quais escrevi bastante por aqui no blog.
O caso escocês é interessante porque coloca o Reino Unido como um todo diante de um dilema. Caso de fato a Escócia decida se tornar independente, a Grã-Bretanha perde de cara 5,3 milhões de pessoas – numa época em que volume populacional é fator importante de impulso econômico, este é um dado relevante. Principalmente quando os britânicos ocupam posição de destaque no ranking das dez maiores potências da economia mundial e se veem ameaçados pela força dos países emergentes e suas grandes populações.
Curiosamente, o movimento nacionalista escocês quer deixar para trás o Reino Unido, mas não a União Europeia. E, em função disso, a própria UE e, claro, o governo central britânico em Londres já deixaram claro que a Escócia deveria repensar a independência. Caso decida seguir adiante, argumentam, terá de esperar na fila de adesão – atrás de Sérvia, Montenegro e Macedônia. A abordagem da UE é similar diante das pretensões de independência da Catalunha. Em Bruxelas, sede política do bloco europeu, as reivindicações catalã e escocesa são tratadas de maneira interligada. Corretamente, a análise é que a independência de um reforça a do outro. Para azar de nacionalistas catalães e escoceses, a adesão de novos países deve ser aprovada de forma unânime pelos Estados-membros.
Na minha opinião, mesmo em tempos de vacas magras, a valorização da UE tem duas explicações razoáveis: a primeira é a busca por legitimidade internacional, naturalmente. A segunda tem a ver com a visão de que esses pequenos países possivelmente terão economia fraca e precisarão importar boa parte do que forem consumir. Diante disso, o isolamento não é uma possibilidade. Bem ou mal, apesar dos resultados ainda modestos nesses seis anos de crise, a esperança é que, cedo ou tarde, a zona do euro se recupere.
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