Neste tempo que antecede os movimentos mais bruscos quanto à decisão de interromper ou não militarmente os avanços nucleares iranianos, é interessante prestar atenção ao cruzamento entre as demandas dos políticos e do público que eles representam. Benjamin Netanyahu e Barack Obama deveriam estar atentos às pesquisas de opinião que têm sido conduzidas por universidades e institutos independentes. O presidente americano certamente leva em consideração essas informações valiosas. Não apenas por seu perfil de líder popular carismático – e profundamente identificado com as pessoas comuns –, mas também porque enfrenta o difícil período pré-eleitoral.
Pesquisa realizada em Israel em conjunto entre a Universidade de Maryland e o Instituto Dahaf mostra a já conhecida divisão da sociedade israelense: 34% dos entrevistados acreditam que o país não deve atacar o Irã, enquanto 42% consideram que tal operação pode acontecer somente se os EUA apoiarem a decisão. Apenas 19% dos ouvidos pensam ser possível realizar a empreitada mesmo sem o apoio dos americanos. Para mim, esses dados são claros: a população comum de Israel sabe da enorme dificuldade que existe para concretizar os planos militares neste caso específico e também está ciente quanto aos prejuízos envolvidos. E isso tem a ver com o que escrevi na terça-feira e com o que venho escrevendo há bastante tempo: ao contrário de operações realizadas anteriormente e com alto grau de sucesso (o bombardeio da usina de Osirak no Iraque, em 1981, e da usina nuclear em construção na Síria, em 2007), há muitas complexidades envolvidas no caso do Irã.
Algumas delas bastante óbvias: como Teerã está em busca de liderança hegemônica regional, um conflito com Israel (por mais que os iranianos tenham muito a perder com ele) é aguardado, uma vez que as autoridades do país não se cansam de realizar ações provocativas e discursos ameaçadores. Ou seja, a República Islâmica não irá fugir de um eventual confronto. Importante lembrar também que as alianças internacionais fortalecidas durante a gestão Khamenei-Ahmadinejad atingem em qualquer cenário seu ponto alto numa guerra com Israel (para ser mais claro, a transferência de armamento a Hezbollah e Hamas). E nada disso é segredo. A população comum israelense – a maior interessada neste assunto – sabe disso. Seria muito interessante poder contar com pesquisas deste tipo realizadas entre os cidadãos iranianos. Mas, por motivos óbvios, não há dados disponíveis.
Do outro lado deste espectro, está a população americana. Por mais que seja pouco provável que o território americano seja palco de uma guerra entre Israel e Irã, os EUA estão envolvidos na questão. É possível que parte da eventual retaliação dos iranianos procure atingir alvos americanos ao redor do mundo, um conflito deste tipo envolve os interesses americanos na região, seu principal aliado – Israel – e a dúvida quanto à participação direta ou indireta das forças militares do país. Pesquisa realizada pelo instituto Pew mostra dados curiosos; a população comum americana está mais engajada na possibilidade de ataque ao Irã do que os próprios israelenses. Entre os entrevistados, 58% são favoráveis à realização de um ataque, caso as resoluções não funcionem. E, para ser mais claro, o objetivo das sanções é forçar o Irã a desistir de prosseguir com seu programa nuclear. Isso não vai acontecer.
Quando Bibi e Obama se encontrarem na semana que vem vão precisar equacionar dados que se anulam: O primeiro-ministro israelense quer atacar o Irã, mas a própria população de Israel não está tão entusiasmada com isso. O presidente americano não é favorável à consolidação do plano militar, ainda mais às vésperas da eleição – muito embora os cidadãos americanos apoiem a iniciativa. Para piorar a situação de Obama, os pré-candidatos republicanos entenderam que o programa nuclear iraniano é uma fonte de discórdia entre o atual presidente e parte do eleitorado. E, por isso, não vão esquecer deste assunto durante toda a campanha.
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