Segundo a ONU, o número de mortos na Síria já passa de oito mil. Este dado a chama a atenção logo de cara porque é inevitável compará-lo à justificativa que tornou possível a criação de uma zona de exclusão aérea internacional na Líbia, por exemplo. Um ano após o início dos protestos populares na Síria, ainda não se pode vislumbrar qualquer possibilidade de resolução. O presidente Bashar al-Assad está sob pressão, mas não a caminho de um exílio forçado ou de entregar o cargo. Isso tudo pode ser explicado. E não apenas pela posição estratégica do país, mas também por questões mais práticas.
Por ora, ainda não é possível dizer que houve deserções significativas de militares sírios. A força aérea permanece praticamente a mesma. Seu poderio não pode ser desconsiderado em qualquer avaliação. São cerca de 54 mil oficiais, o dobro dos combatentes líbios com os quais Kadafi contava. Os muitos anos de parceria com a Rússia também garantem às forças de Assad equipamento avançado e tecnologia capaz de permitir levar adiante embates com qualquer força aérea internacional. Isso não dá a Damasco qualquer certeza de vitória, claro, mas causa temor de perda de vidas e prejuízo financeiro significativo aos ocidentais. E como ninguém pode prever qual será o posicionamento da Rússia, há aí também mais um fator de preocupação.
No entanto, o cerco parece estar começando a se fechar. A Rússia diz estar pronta a apoiar uma resolução do Conselho de Segurança que exija um cessar fogo entre as partes, mas que não se configure como um ultimato a Assad. Já escrevi algumas vezes sobre a aliança histórica entre russos e sírios. É a partir dela que Moscou tem agido. No entanto, a Rússia também enxerga a situação como uma oportunidade de retomar o protagonismo internacional perdido. Seria uma reversão de crise em grande estilo, além de certamente acabar alardeada como vitória sobre os EUA. O grande problema a todos os envolvidos na crise síria é o caminho que ela tem seguido. Como em todos os conflitos do Oriente Médio, não há nenhum espaço para ilusões. Instabilidade significa oportunidade para a exacerbação dos conflitos étnicos.
E, assim como em outras partes da região, as tensões entre as etnias é silenciada pelo poder do Estado. Se as instituições do país balançam (mesmo que elas não sejam democráticas, como é o caso), a própria manutenção do país fica comprometida. E é isso o que está acontecendo agora. O risco de um embate interno entre as distintas fidelidades religiosas é grande. É possível mesmo que a Síria siga o exemplo do Iraque, um país dividido pela guerra interna. Justamente para evitar este cenário, não duvido que as potências ocidentais encontrem um concerto que tenha como única motivação evitar o colapso do Estado sírio. Por conta disso, a presença de Kofi Annan no país pode conseguir apoio de todo mundo. Resta saber como Bashar al-Assad irá se comportar, uma vez que ele sabe que o desmantelamento do país não interessa a ninguém.
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