O presidente americano, Barack Obama, tem sido criticado por parte da imprensa americana por sua atuação durante a encontro sobre segurança nuclear realizado na Coreia do Sul. Ele é acusado de ter usado a ocasião politicamente para atacar a Coreia do Norte e o Irã, desperdiçando a oportunidade de discutir o uso de energia nuclear e suas muitas graves consequências práticas, como os conhecidos desastres em usinas deste tipo – da mesma forma como aconteceu durante o tsunami no Japão, em 2011.
Enxergo muitas doses de ingenuidade nas críticas a Obama. É claro que é importante discutir as questões técnicas e medidas preventivas, mas como alguém poderia imaginar que o presidente americano perderia a oportunidade de exercer seu poder num palco tão fundamental à política externa dos EUA? Escrevi há algum tempo sobre a mudança do eixo global. Esta mudança está relacionada, principalmente, à grande virada econômica tão conhecida de todo mundo. Com a ascensão de novas potências e a crise de atores tradicionais, como os europeus, o comércio e a produtividade passam, obrigatoriamente, a ter na Ásia um de seus principais pilares.
E, como principal potência, os EUA não querem estar fora deste novo jogo. Ainda mais num período de crise e com a China correndo cada vez mais rápido na disputa pela primeira colocação no ranking econômico mundial. É preciso contextualizar para entender. Um encontro envolvendo 54 líderes internacionais é um palco também na costura das alianças para os próximos quatro anos. E como todo mundo já sabe (e o vídeo que incluí neste post mostra isso muito bem), Obama considera – com razão, diga-se de passagem – que tem grandes possibilidades de se reeleger. Por isso, é fundamental marcar posição entre os parceiros asiáticos.
Atacar com palavras o programa nuclear norte-coreano, ameaçar as intenções de Pyongyang de lançar um foguete para colocar um satélite em órbita e visitar pessoalmente a zona desmilitarizada entre as Coreias do Sul e do Norte (que de desmilitarizada tem só o nome mesmo) são maneiras de fortalecer os aliados americanos na região – que, em comum, temem as movimentações da Coreia do Norte e ainda trabalham às cegas sobre as intenções do jovem Kim Jong Un, sucessor de Kim Jong-il. O ponto de partida dos principais atores regionais próximos aos EUA (Coreia do Sul, Austrália e Japão) é, na pior das hipóteses, Kim Jong Un será tão hostil quanto o pai. Isso pode até mudar, mas a análise concreta é que o filho do ex-líder cresceu e ascendeu politicamente no mesmo ambiente de Kim Jong-il. Em tese, não haveria razões para crer em algum suposto distanciamento ideológico entre eles.
No entanto, é preciso deixar claro que os avanços nucleares da Coreia do Norte tem sido muito mal abordados pelas sucessivas administrações americanas. Clinton, Bush e Obama não conseguiram obter sucesso nas negociações com Pyongyang porque erram sem parar nas estratégias globais escolhidas para enviar mensagens aos países que pretendem desenvolver programas nucleares. São declarações, mensagens e negociações simplesmente incoerentes e que, no caso da Coreia do Norte, acabou muito bem interpretada pelo regime esquizofrênico à frente do país. Artigo do colunista Paul J. Leaf, publicado na revista Forbes, mostra bem o tamanho desta contradição:
“A Líbia voluntariamente abriu mão de seu programa nuclear e, alguns anos depois, os EUA ajudaram a lançar uma campanha para derrubar seu líder. A Coreia do Norte, ao mesmo tempo, atacou outros países, inclusive civis, mas seu arsenal nuclear imunizou-a de punições. Pior: a beligerância do país foi recompensada com ofertas de benefícios econômicos em troca de persuadi-la a participar de conversas inúteis”. Por “conversas inúteis”, entenda-se o improdutivo processo de negociações sobre o programa nuclear da Coreia do Norte que se arrasta desde 1994.
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