Para concluir por ora as reflexões acerca de Chávez, vale fazer alguns contrapontos em relação ao post anterior. Talvez o último texto tenha soado para lá de positivo ao líder venezuelano, mas não é possível escrever sobre uma figura tão controversa sem apresentar, justamente, as controvérsias em torno de sua personalidade, ideias e escolhas.
O que não se pode dizer, de forma alguma, é que Hugo Chávez tenha sido um conformista. Pelo contrário; encarnou de maneira hiperbólica a vontade de transformar seu país. Aliás, seus discursos e decisões mostraram que chegou mesmo a acreditar que poderia mudar o continente todo e, quem sabe, o mundo. O garoto humilde que nasceu numa favela queria mudar de tal forma a realidade que exercer burocraticamente o cargo nunca foi opção.
E esta forma de encarar a vida fez com que produzisse uma profunda transformação social usando a principal fonte de recursos existente na Venezuela: o petróleo. A estatal PDVSA passou a ser a vaca leiteira dos programas sociais. Num país de desigualdades tão gritantes quanto o Brasil anterior à Era Lula, o senso de urgência chavista foi responsável por apressar soluções que, equivocadamente, não fortaleceram as instituições nacionais. A propaganda governamental e a enorme burocracia se apoderaram do Estado. Ao contrário do Brasil, que conseguiu impulsionar crescimento econômico e investimento social ao entender que um futuro mais próspero só será possível se a estabilidade das instituições estiver garantida.
Li por esses dias um editorial interessante onde uma das questões-chave da herança chavista é exposta: um déficit nacional de 20% e uma taxa inflacionária de 30% ao ano. Isso sem falar nas questionáveis opções internacionais de Chávez, sempre pronto a apoiar qualquer um que confrontasse os EUA e que também errou feio na leitura de importantes acontecimentos recentes: o presidente venezuelano prestou solidariedade a Saddam Hussein, em 2000, e condenou a Primavera Árabe – movimento que julgou como parte de um plano “imperialista” para derrubar líderes antiamericanos no Oriente Médio. Chávez embarcou no bonde errado da história, preferindo defender Muammar Kadafi, na Líbia, e Bashar al-Assad, na Síria.
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