Até o final do mês de abril, as forças militares de EUA e Coreia do Sul realizarão exercícios de larga escala. O objetivo para lá de óbvio é demonstrar que os sul-coreanos estão muito bem protegidos pelos aliados americanos e que as recentes ameaças verbais e concretas do fechadíssimo governo da Coreia do Norte não são recebidas com temor, mas também – e principalmente – respondidas com ações.
O teste nuclear de Pyongyang e, mais ainda, o rompimento da linha de comunicação entre os dois vizinhos da península coreana são indícios de uma nova tentativa de mexer com a geopolítica local. Se e a cúpula de poder da Coreia do Norte é vista internacionalmente com desconfiança e com um certo olhar de excentricidade (com razão), é preciso, ao mesmo tempo, fazer uma ressalva; a associação automática à loucura deixa um grande vazio e não preenche lacunas de questionamentos importantes. E é por isso que é importante dizer que simplesmente caracterizá-los como loucos é apenas uma maneira simplória de enxergar a situação.
Aliás, o estado mental da cúpula norte-coreana não é relevante. Justamente porque, como costuma dizer George Friedman – fundador do Stratfor, o maior grupo privado de pesquisa em relações internacionais dos EUA –, todos os países têm seus interesses estratégicos. E a Coreia do Norte também tem os seus. E o principal deles é, olha só, a manutenção de seu regime que tem justamente como elemento-chave a idolatria nacional e compulsória à figura do líder nacional. O nome da vez é Kim Jong Un, um jovem de somente 30 anos de idade alçado ao cargo mais alto da hierarquia por ser filho de Kim Jong Il, por sua vez, filho Kim Il Sung, o fundador do país.
A tese de Friedman, que a mim faz bastante sentido, é de que a juventude de Kim Jong Un não havia encontrado suficiente respeito internacional (aos olhos do regime, claro). Por isso, nada melhor do que uma crise envolvendo os EUA, Coreia do Sul, ONU, China, Japão e Rússia para mostrar que “o nosso garoto não está para brincadeira”.
Acrescento também que, como se sabe, a Coreia do Norte mantém um regime fechadíssimo e que sustenta aos seus habitantes que o país é uma potência internacional temida. Na prática, no entanto, a população passa necessidade. Relatório divulgado na sexta-feira pela ONU mostra que 25% das crianças norte-coreanas estão desnutridas; e 66% das pessoas não sabem como irão conseguir a próxima refeição.
Por isso, como vem acontecendo desde 1991, as lideranças do país usam este encerramento do governo, o mistério em torno do programa nuclear e as ameaças internacionais para conseguir alimentos e ajuda externa. Toda esta operação logística a fim de manter o regime – fechado, verborrágico e faminto.
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