O presidente Obama chega a Israel e aos territórios palestinos para pôr em prática o que sabe fazer de melhor: conquistar plateias com seu carisma. Ninguém duvida do poder de persuasão do líder americano mais pop desde John Kennedy. E a viagem ao Oriente Médio vai exigir toda a sua habilidade. Na verdade, o propósito do tour atual não é somente conquistar o público, mas sentir a temperatura do ambiente real, estar no centro da discórdia que vai muito além das estatísticas.
Para ser mais direto: ninguém questiona que as perspectivas de paz entre israelenses e palestinos são pequenas. Em curto prazo, dá até para dizer que as chances de sucesso são mínimas. Mas, se a realidade atual é ruim, ao menos há mudanças práticas importantes; desde sábado, um novo governo de Israel passou a comandar o país. Está certo que pouco mudou, mas é importante dizer que este é um cenário político novo no Estado judeu, um cenário onde o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu precisou fazer concessões e articular coalizões para viabilizar este segundo mandato. E não há dúvidas de que essas alianças deram cores mais centristas a seu governo. Não quero entrar de cabeça no assunto porque creio que o tema merece um texto único, mas aos otimistas este novo movimento interno em Israel pode sim ser encarado como uma oportunidade de mudança.
Do lado palestino, a situação não é das melhores, mas enquanto o governo nacional está dividido e frustrado, a presença do líder mais importante do mundo pode ser uma fonte de fortalecimento político à Autoridade Palestina, instituição que reúne os interlocutores locais mais interessados em retomar as conversações de paz. Lembrando que a alternativa local é o Hamas, ou seja, não é uma alternativa.
O fato é que, desta vez, quem anda muito em baixa em Israel é o próprio Obama. Seu primeiro mandato ficou marcado pelas tentativas de reconciliação com os países árabes e islâmicos. Este possivelmente é um dos motivos que, em pesquisa do Jerusalem Post, levaram 80% dos israelenses a dizer que não acreditam que o presidente americano seja capaz de concretizar um acordo de paz na região nos próximos quatro anos.
O momento é tão delicado que até o público americano se mostra cansado deste tema. Outra pesquisa, desta vez encomendada pelo Washington Post, concluiu que 69% dos cidadãos dos EUA entrevistados consideram que a Casa Branca deveria se retirar e deixar as negociações para israelenses e palestinos. Este tipo de resultado é ruim para as lideranças oficiais dos dois lados envolvidos. O governo de Israel sabe que o país anda isolado internacionalmente e com cada vez menos aliados. Os palestinos também não preferem um cenário onde Washington largue o assunto de mão, principalmente porque sabem que os países árabes e islâmicos gostam muito de usar o discurso favorável aos palestinos para seus próprios públicos internos, mas que, na prática, não costumam ajudar de verdade. Articular um acordo positivo e global é ainda menos provável.
A cúpula do governo Obama já fez este tipo de análise, obviamente. Resta saber agora se a Casa Branca vai cumprir o protocolo usando como trunfo exclusivamente o carisma do presidente ou se alguma medida palpável vai ser apresentada nos próximos dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário