quarta-feira, 6 de março de 2013

Trono vacante na Venezuela


Hugo Chávez morreu. Se esta notícia pode soar como música a muitos dos opositores ao regime, é bom deixar claro que o chavismo é um movimento que está longe de acabar na Venezuela. Esta dualidade de interpretações marcou todo os 14 anos de presidência de um dos mais polêmicos líderes recentes da América Latina. De fora para dentro, os aliados ao regime são os Estados parceiros do continente, além de figuras tão polêmicas quanto o próprio Chávez: o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, o presidente sírio, Bashar al-Assad, o regime chinês e por aí vai. 

Agora, a Venezuela tem 30 dias para organizar uma nova eleição. E aí, uma vez mais, vale a máxima sobre interpretação de dados do país. Por exemplo, as pesquisas apontam o vice-presidente, Nicolás Maduro, como franco favorito. No entanto, no último e recentíssimo pleito, a oposição perdeu por somente 11 pontos percentuais, o candidato Henrique Capriles (governador do estado de Miranda) é um político em ascensão com aparente força de aglutinação dos movimentos anti-Chávez e a oposição conquistou importantes vitórias regionais em estados onde o chavismo mantinha controle político. 

Esta é uma forma de ler o polêmico embate interno no país; vamos a outra: nas últimas eleições, Chávez foi reeleito com uma vantagem de mais de 1 milhão de votos, o chavismo caminha para eleger Nicolás Maduro e, muito importante, a oposição perdeu quatro dos sete estados que controlava – vale a informação de  que a Venezuela é formada por 23 estados. Nos últimos 14 anos – desde que Chávez assumiu o poder – , a Venezuela se transformou em paradigma de discussão. Não se discute os assuntos e acontecimentos do país de maneira neutra, ou melhor, nada que se refira à Venezuela é tratado com isenção. Isso se deve não somente às medidas do próprio presidente e de sua declarada “revolução bolivariana”, mas também, claro, ao regime personalista que encarnou durante todo este tempo. Chávez é amado e odiado devido à própria grandiloquência de seus atos e da forma como se fez propositalmente protagonista. O presidente venezuelano sempre soube disso e aparentemente nunca se importou com os exageros de gestos e discursos de amor e ódio que caminharam junto a si ao longo de seus sucessivos mandatos. É como se sua personalidade fosse tão fundamental à revolução que sonhava concluir quanto as medidas políticas. 

Chávez morreu num clima de incertezas, paixões e até teorias conspiratórias. A morte prematura é cercada de mistérios e suspeitas de atos contrarrevolucionários cujos principais suspeitos para os partidários do chavismo são os “imperialistas”. Não tenho nenhuma dúvida sobre a influência do chavismo nas próximas eleições e, pelo o que parece, toda a rede popular que o presidente construiu não vai ser apagada de uma hora para outra. Muito pelo contrário, a paixão de seus partidários está expressa nas muitas vitórias eleitorais e no eco popular que seu discurso provoca há 14 anos. E não somente na Venezuela, uma vez que a aliança com regimes de esquerda latino-americanos sempre foi marca fundamental da gestão Chávez. A própria Organização dos Estados Americanos sempre destacou os avanços sociais do governo da Venezuela e, mesmo pressionada pelos EUA, não comprou o discurso de oposição ao país. Não creio que esta importante coluna de sustentação irá se desmontar com sua morte. Para apoiadores e detratores, fica a certeza: a herança do presidente venezuelano está impressa na política latino-americana. 

Nenhum comentário: