Escrevi no meu último post que as perspectivas quanto à visita de Obama a Israel e aos territórios palestinos eram baixas. Isso porque havia um clima de que o presidente americano não daria início a novas rodadas do processo de paz ou não apresentaria novidades significativas durante a viagem. Eu aguardava surpresas, e elas vieram. Aliás, vieram de tal maneira que acabei queimando a minha língua – o que ocasionou febre alta, cansaço e total incapacidade de escrever algo decente nos últimos dias. E por isso me desculpo com os leitores.
Sem perder tempo, vamos a uma análise rápida sobre os resultados da visita: o mais importante é o restabelecimento das relações entre Israel e Turquia. A troca de farpas desde 2010 devido ao episódio da frota patrocinada pelo governo de Ancara não interessava aos dois países. Mostrando a influência de Obama e a necessidade de dar algo realmente valioso sob o ponto de vista político ao presidente neste início de mandato levaram o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a ceder. Conhecido pelas posições firmes, Bibi telefonou para o líder turco Recep Tayyip Erdogan e pediu desculpas pelas mortes de cidadãos da Turquia no evento de três anos atrás – que, vale dizer, tinha tudo para dar errado, nasceu para dar errado e, claro, deu errado.
Se Netanyahu é conhecido pela inflexibilidade, é bom dizer também que estamos falando de um político para lá de experiente e que ocupa pela terceira vez o posto de primeiro-ministro. Não se pode questionar sua capacidade de articulação. O líder israelense sabia que era preciso dar algo em troca ao presidente americano. Nos últimos anos, Bibi esticou a corda ao máximo, conseguiu colecionar desafetos internacionais e por tantos motivos – inclusive pessoais – chegou ao pior momento das relações entre EUA e Israel. Isolado, o primeiro-ministro ainda tentou criar alternativas internacionais, mas com países cuja importância estratégica, econômica e geopolítica é incomparável a dos EUA.
Isso sem falar na obviedade da importância da normalização das relações com a Turquia – Estado com população muçulmana, com forças armadas de capacidade reconhecida e liderado pelo homem mais admirado pela população islâmica mundial. No cenário regional do Oriente Médio, Israel e Turquia ainda compartilham a necessidade de estarem juntos neste momento de desmembramento do Estado sírio. Erdogan não quer de nenhuma maneira que haja um Curdistão independente no nordeste da Síria, justamente na fronteira sudeste da Turquia. E Israel quer evitar que Irã, Hezbollah e al-Qaeda se apoderem da estrutura militar da Síria, inclusive de seu armamento químico. O fim do Estado sírio poderia significar a criação do terceiro posto avançado de inimigos declarados nas fronteiras de Israel – somados a Gaza controlada pelo Hamas e ao sul do Líbano, território amplamente reconhecido como esfera militar e política do Hezbollah.
Há outros pontos interessantes sobre a visita de Obama ao Oriente Médio, mas prefiro abordá-los nos próximos posts.
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