A morte de Hugo Chávez provocou um grande debate sobre seu legado. Como aconteceu em vida, nada do que diz respeito ao presidente venezuelano é unanimidade. A paixão por política – e mais ainda por ideologia – é sua principal marca, mas há outras tantas que são bastante relevantes e que alteraram a balança de poder latino-americana.
A primeira delas diz respeito a um dos efeitos práticos de sua “revolução” bolivariana: a partir de sua ascensão na Venezuela, a América Latina sofreu uma guinada à esquerda. Não existe acaso nisso tudo e outros momentos políticos do continente já haviam deixado isso muito claro. Não custa lembrar os anos de ditaduras militares tão intimamente conectadas que chegaram a contar, inclusive, com um sistema de repressão conjunto que cerceava liberdades e assassinava opositores.
Se hoje muito mais da metade da população latino-americana é governada por regimes de esquerda, este é mais um dos efeitos dominó da política regional. E Chávez foi a primeira peça a empurrar as demais, notadamente Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina, Chile, Equador, Uruguai, Nicarágua, El Salvador.
O senso de unidade entre os países é tão grande que reações igualmente regionais por parte de grupos identificados com a direita foram rechaçadas em bloco – o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), capitaneado pelos EUA nos anos 90, foi enterrado; a tomada de poder pela oposição em Honduras e Paraguai levou os dois países ao isolamento. E, mais, organismos multilaterais passaram a ser porta-vozes da esquerda latino-americana, casos da Unasur, na América do Sul, e da Organização dos Estados Americanos (OEA), entidade representativa de todos os Estados das Américas e onde, graças a Chávez, principalmente, os EUA perderam força e poder de persuasão.
Regionalmente, esses são os efeitos mais importantes dos 14 anos de Chávez, que pouco antes de sair de cena ainda conseguiu incluir a Venezuela no Mercosul – como curiosidade, o Paraguai continua suspenso do bloco em função do conturbado processo de deposição do presidente de esquerda Fernando Lugo.
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