sexta-feira, 16 de maio de 2014

A teoria que sustenta o nacionalismo russo contra a Ucrânia


Já comentei algumas vezes por aqui sobre uma maneira distinta de análise. A imprensa tradicional e diária muitas vezes não tem tempo para fazê-la. A vantagem deste blog é justamente ter espaço para isso. Li um comentário interessante que lança um olhar diferente sobre a crise na Ucrânia. 

“Os divulgadores de Vladimir Putin querem levar os europeus para uma realidade alternativa, uma narrativa histórica um tanto distinta do que pensa a maior parte dos ucranianos ou, na verdade, do que as provas sustentam. A Ucrânia nunca existiu, é o que dizem, ou existiu somente como parte do império russo. Os ucranianos não existem como povo; no máximo, existem como ‘pequenos russos’”. 

Esta é a tese de Timothy Snyder, professor de história da universidade Yale, sobre a propaganda política em curso. Essa propaganda tem sido bastante eficaz ao governo russo porque é assimilada com certa facilidade pela população russa. O que está em questão neste momento exato são as interpretações distintas que mereceriam as nacionalidades russa e ucraniana; para Putin e seus correligionários – e os altos índices de aprovação popular do presidente mostram que eles são muitos –, a nacionalidade e o nacionalismo russos são dados, são naturais. O erro é a ideia de nação ucraniana. Ou seja, é como se uma entidade superior ou a própria história tivessem dado território, língua, pátria, hino e bandeira exclusivamente à Rússia, não à Ucrânia. Ou ucranianos seriam uma espécie de aberração da natureza, uma doença inventada pelo Ocidente ou pelos inimigos de Moscou para causar dano à Rússia. A nacionalidade artificial ucraniana seria, agora, um instrumento ocidental para confrontar, amedrontar e inibir a nacionalidade russa. 

O engajamento do nacionalismo russo neste confronto atual existe em função disso tudo. A artificialidade ucraniana seria uma ameaça à naturalidade nacional russa. Depois de redigir esta linha de raciocínio, acho que fica claro a incoerência da justificativa teórica russa. Principalmente porque, obviamente, os conceitos de pátria, nação, bandeira, hino são todos artificiais. Seja lá qual for o país. Todos esses são elementos construídos por seres humanos em algum ponto da história. O que os diferencia, basicamente, é tão somente o tempo, o ponto de origem dessas construções.

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