Durante quatro dias nesta semana os cidadãos dos 28 países-membros da União Europeia (UE) vão às urnas eleger 751 parlamentares do bloco. Os europeus, normalmente, não dão muita importância às eleições europeias, até porque os assuntos da política nacional de cada um dos países ainda são mais relevantes. No entanto, um conjunto de circunstâncias e elementos acabou por mudar um pouco esta característica.
A última votação aconteceu em 2009, já com o continente em crise. Cinco anos depois, a situação não apenas piorou, como também os frutos políticos desta nova era já estão relativamente conhecidos. Os partidos de extrema-direita conquistaram terreno e se multiplicaram. Para completar, os confrontos entre Ucrânia e Rússia e entre Rússia e União Europeia adicionaram novos fatores a um cenário cada vez mais complicado.
Curiosamente, os partidos mais interessados na eleição europeia são justamente os que se opõem a ela. Alguns deles são mais conhecidos, como o Jobbik, na Hungria, e a Frente Nacional, na França. Em comum, um discurso xenofóbico, que culpa principalmente a imigração como responsável pela calamidade atual. Este é um fenômeno comum – e até atual – em sociedades acostumadas a altos padrões de vida mas que, recentemente, precisaram regredir em função da crise econômica. Nos EUA, por exemplo, o partido Republicado – e mais precisamente o movimento conservador Tea Party – bebe nesta mesma fonte. O passado idealizado é terreno fértil para se contrapor ao presente que não oferece tantas alternativas. Esses partidos e movimentos – tanto na Europa quanto nos EUA – encontram eco em eleitores insatisfeitos com soluções políticas tradicionais. O problema é que, neste jogo de poder, a figura do imigrante, do diferente, é sempre um alvo fácil, óbvio e frágil.
Agora, até a Grã-Bretanha tem seu próprio partido anti-imigração. Nigel Farage é o líder em ascensão do United Kingdom Independence Party (UKIP). Como escreveu o Guardian sobre a participação de Farage no Parlamento Europeu, “ele participa somente para atacá-lo, e seu partido existe para destruí-la (a UE) ou pelo menos a participação britânica”. Este é um traço comum a quase todos os partidos de extrema-direita na Europa, inclusive. E o discurso desses partidos só tem obtido sucesso porque reflete o histórico de frustração recente dos cidadãos. O índice de confiança na UE caiu de 50%, em 2004, para 31%. O gráfico que ilustra este texto mostra isso com precisão.
“Os partidos políticos dominantes estão em decadência, e os votos na centro-esquerda e na centro-direita estão fragmentados. A social democracia perdeu a conexão com os eleitores de baixa renda ao não conseguir criar empregos e também ao restringir os gastos públicos”, diz ao Independence Simon Hix, professor de política europeia na London School of Economics.
A complicação da política tradicional é resultado deste cenário. Até porque o tempo joga contra. Se a crise permanece, mais pessoas perdem qualidade de vida, mais pessoas perdem renda, mais pessoas se sentem frustradas e sem alternativa, aumentando o público-alvo dos partidos que tem a xenofobia como resposta a todos os problemas.
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