Caros leitores, para azar de vocês, eu não consigo deixar de escrever sobre a Rússia. Prometo a vocês que, em breve, isso vai terminar, até porque o cenário internacional é diversificado o bastante. O problema é que as questões envolvendo a crise na Ucrânia e a terapia de efeito retardado que russos e ocidentais estão realizado a partir disso são bem interessantes. Nesta semana, o Ocidente manifestou sua costumeira esperança de que há bondade na natureza humana e Putin não tem estratégia própria, somente reage a acontecimentos. Editorial do Guardian mostra bem esse equívoco:
“Ficou ainda mais claro que Putin não quer invadir ou anexar o leste da Ucrânia”. O jornal chega a esta conclusão baseado tão somente no fato de Putin retirar suas tropas da fronteira e no pedido do presidente russo para que os “militantes pró-Rússia” não realizem o referendo para aprovar a anexação de uma vez. Vale reproduzir o texto:
“Pedimos à representação do sudeste da Ucrânia, aos que apoiam a federalização, para adiar o referendo programado para o dia 11 de maio de forma a criar condições apropriadas a este diálogo”. Esta é a nota oficial de Moscou. O Kremlin não usa o termo “anexação”, repararam? Isso porque, na origem, esta diferença semântica entre “anexação” e “federalização” suaviza o mundo real, de alguma maneira. Este é Putin – o mesmo que, de acordo com o Guardianm “deixa claro que não quer invadir ou anexar o leste da Ucrânia”. A suavização serve, uma vez mais, à estratégia vitoriosa de morde e assopra – tão difundida entre aliados russos, como Síria e Irã, por exemplo.
A prática tem pouco de suave. Putin pode ter tirado tropas das fronteiras, pode ter adotado tom ameno, mas agora está confortável por saber que o processo de guerra civil na Ucrânia está feito. Não depende mais dele. Afinal, o conflito está em curso. Como controlar o grau de violência e intensidade dos “militantes”? Como voltar atrás na batalha política agora que tirou da acomodação a população comum favorável à Rússia na Ucrânia? Como acalmar os ânimos?
A ideia não era essa mesmo. O propósito de tocar fogo já foi atingido. Agora, o presidente russo quer mais é que europeus e americanos se virem para resolver o problema.
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