Com a expansão russa sobre a Ucrânia cada vez mais evidente, restam poucas dúvidas sobre os objetivos de Moscou. Para ser muito claro, a ideia de Putin hoje é inviabilizar a continuidade da existência do Estado ucraniano tal como o conhecemos hoje. E, para ser ainda mais claro, a Rússia tem tido sucesso nesta empreitada.
Fazendo uma retrospectiva muito rápida, Putin conseguiu frear a aproximação da Ucrânia com a Europa, impedir a tomada de poder por um presidente pró-ocidente, forçar a barra e constatar que os limites ocidentais são muito variáveis quando se trata de Rússia, e ainda por cima aumentar sua popularidade interna. Se do ponto de vista ético as atitudes do presidente russo são questionáveis, pode-se dizer que as ações tiveram impacto muito rápido e foram bem sucedidas estrategicamente. Ainda não sabemos se o povo russo poderá ter algum ganho – acho que não. Mas Putin não para de capitalizar.
Hoje, o futuro da Ucrânia está em suspenso. Novamente, Putin agiu mais rápido do que todo mundo ao entender que os conflitos atuais podem ser travados em frentes diferentes. Moscou negocia com o Ocidente na ONU e nos encontros internacionais, mobiliza sua força militar nas fronteiras com a Ucrânia e – o pulo do gato – invade o território ucraniano graças ao que a imprensa internacional tem chamado de “militantes pró-Rússia” (que de fato estão no campo de batalha). Alguém ainda é inocente para acreditar que se tratam de “voluntários” aliados a Moscou ideologicamente e dispostos a dar a vida por Putin? Pois é.
Alexander Golts é um jornalista russo que, em meio a tanta repercussão de fatos e pouca construção de análise, consegue enxergar além do que acontece no cotidiano. Assim, interpreta bem as ações de Putin e seus objetivos de médio e longo-prazos.
“O plano estratégico do Kremlin ficou claro (...). A intenção é desestabilizar as regiões leste e sul da Ucrânia com uma rebelião. O caos e a guerra civil que resultariam (deste evento) permitiriam a Moscou proclamar as eleições ucranianas de 25 de maio como ilegítimas. (Com isso,) Putin irá mandar uma mensagem clara a qualquer ex-república Soviética de que ela não deveria sequer considerar o estabelecimento de laços mais estreitos com a Europa”.
Em última instância, para Putin, o desejo de parte da população ucraniana de adesão à União Europeia é uma ousadia tão imperdoável que deve ser punida com rigor máximo.
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