A única maneira de combater a ISIS é enfraquecer seu discurso simultaneamente às batalhas militares. Não é possível excluir nenhum desses dois pilares. De qualquer maneira, as duas formas de evitar a expansão do grupo são complicadas por uma série de razões. A principal delas, do ponto de vista prático, é o fato de parecer impossível negar as sucessivas vitórias do movimento terrorista mais sanguinário do século 21.
Para enfraquecer o poderio militar da ISIS é preciso também esvaziar suas alianças. Curiosamente, seus membros são hoje ajudados pelos antigos correligionários de Saddam Hussein. Conhecidos como Exército de Naqshbandi (na sigla JRTN), seus militantes pretendem eliminar o governo xiita iraquiano. Lembrando sempre que o Iraque pós-Saddam foi tomado por uma tentativa de vingança da população xiita contra os sunitas (que representam cerca de 34% da população, mas estavam nos cargos de comando do país durante os anos de regime de Saddam Hussein). O governo do primeiro-ministro Maliki, xiita, não conseguiu concluir um projeto de união nacional, pelo contrário. As rivalidades sectárias se agravaram.
A ISIS se infiltrou neste vazio político deixado em Síria e Iraque. Ela aprofunda a divisão, se alimenta dela e exacerba o ódio pondo em prática um regime medieval que vai além de uma mera comparação com um dos períodos históricos mais violentos da humanidade. A oposição iraquiana ao governo Maliki representa uma oportunidade de acesso a armamento, conhecimento do território e a lideranças políticas que contam com certa legitimidade no país. Mas os membros da JRTN serão descartados tão logo a ISIS tenha conseguido o que quer. E esta é uma oportunidade aos opositores do grupo.
Isso porque quebrar a aliança entre JRTN e ISIS causaria um dano técnico relevante ao grupo fundamentalista islâmico. E a JRTN tem um interesse específico: retomar o protagonismo no Iraque. Ou seja, por mais contraditório que seja, é melhor negociar com os ex-partidários de Saddam Hussein que perder de vez o Iraque, sempre levando em consideração que o território iraquiano é apenas uma parte do objetivo da ISIS. O grupo que não respeita fronteiras internacionais certamente não ficará restrito a Síria e Iraque.
Um comentário:
Uma bela abordagem de uma situação que se agrava, e ameaça não só a Síria e o Iraque, mas todo o Oriente Médio
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