sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Alguma ingenuidade ao analisar o IS

Para concluir a semana numa reflexão rápida sobre este novo fenômeno terrorista, acho interessante fazer algumas observações simples. Ainda mais no período em que os atentados de 11 de Setembro completaram 13 anos – não é uma efeméride tradicional, mas é sempre importante lembrar a data que considero marcar o início do século 21 (e dos acontecimentos subsequentes que ainda moldam o novo século). 

O jornalista Oudeh Basharat apresenta no jornal Haaretz uma visão interessante sobre o IS: “o desafio ao mundo árabe é drenar os pântanos que produzem essas doenças, introduzindo justiça social, democracia e direitos humanos”. Ele tem razão, mas repete um vício muito comum de quem analisa grupos como o IS: buscar, sem que os grupos tenham pedido, motivos que, em teoria, justificariam suas existências. O raciocínio é simples: em lugares onde há justiça social, democracia e direitos humanos, não haveria espaço para esses grupos. Ou melhor, eles não teriam razão para existir. 

Esta afirmação é parcialmente correta. Isso porque, de fato, esses elementos esvaziam os grupos, tornando o terrorismo menos atraente a novos seguidores. Mas no caso do IS e de tantas outras organizações terroristas, buscar encontrar dados que justificariam a realização de atentados contra inocentes soa até um pouco ingênuo. É impossível garantir que IS, Hamas, Hezbollah, al-Qaeda e afins deixariam de existir em ambientes democráticos. É possível e muito provável que teriam menos seguidores, que seus discursos fossem menos atraentes, que não protagonizassem a cena regional, mas daí a garantir que não existiriam é mera especulação. Não há qualquer dado concreto a provar que o Oriente Médio estaria totalmente livre do terrorismo. 

Para finalizar, há um elemento ignorado nesta afirmação: o terrorismo no Oriente Médio não leva em consideração somente aspectos políticos, muito pelo contrário. O terrorismo no Oriente Médio é uma extensão religiosa a partir do fundamentalismo islâmico. Osama bin Laden, por exemplo, não era um desprovido, mas herdeiro de uma família saudita rica. Osama bin Laden não era um guerrilheiro de esquerda, um altruísta que dedicou sua vida a defender as massas desprovidas. Era um radical ideológico cuja bandeira única era a reprodução de conceitos fundamentalistas e a realização de atos de terrorismo. É impossível analisar qualquer fenômeno no Oriente Médio ignorando essas características regionais. 

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