Particularmente, quando penso sobre o plebiscito discutindo a independência da Escócia, confesso que me sinto entrando numa máquina do tempo. Um tempo onde disputas políticas internacionais eram decididas por um instrumento tão pacífico e civilizado quanto uma votação. O século 21 foi até mais longe. Não apenas deu cabo de qualquer artifício legal para a resolução de disputas, mas acabou até com as regras envolvendo as guerras. Mas este é outro assunto.
No caso escocês, há elementos bem interessantes e que servem para que possamos fazer um intervalo nesta imersão no IS. Para ficar claro, a Escócia vai dar adeus aos últimos 300 anos de história e à aliança britânica que envolve Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. Do ponto de vista britânico, significa um enfraquecimento político óbvio e a exclusão de 5,3 milhões de escoceses de sua população total.
Paul Gillespie, ex-editor de Política Internacional do jornal Irish Times, tem uma visão interessante sobre o significado deste referendo: “os laços (característicos) de Império, guerra, protestantismo e bem-estar que a manteve (a Grã-Bretanha) unida durante o século 20 se desfizeram e não foram substituídos por uma narrativa alternativa convincente”, escreve.
Pode parecer poético demais, mas, como escrevi naquele texto na sequência da derrota brasileira para a Alemanha na Copa do Mundo, países não existem apenas como um conjunto de prédios, fábricas, parques, avenidas e gente. O capital simbólico é até mais importante do que todos esses elementos.
Um aspecto muito relevante nesta disputa é a opção política que os escoceses têm feito historicamente. Desde 1935, a Escócia não vota em governos conservadores. E, justamente em função de ser parte do Reino Unido, acabou governada por conservadores, na medida em que sucessivos primeiros-ministros do partido têm assumido o controle político em Londres. Na prática, ao contrário de muitos dos movimentos que buscam independência em todo o mundo, o caso escocês é um pouco diferente. É utópico como os demais, mas distinto na medida em que não se ampara exclusivamente no discurso nacionalista. Há a ideia de valorização da cultura escocesa, mas um dos focos principais é o fato de a Escócia não se alinhar ideologicamente às decisões políticas da Inglaterra. E como o histórico de divergência já é bastante extenso, seria chegada a hora da separação.
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