Ainda sobre as dificuldades de Obama, vale lembrar a divulgação do relatório sobre a prática de tortura produzido pelo Comitê de Inteligência do Senado americano. A investigação confirma que muitos presos foram torturados de forma a revelar o que sabiam sobre possíveis ataques aos EUA. Isso já não era segredo, mas certamente é mais um infortúnio que se soma a tantos com os quais a atual administração tem de lidar.
Como escrevi no texto anterior, a questão envolvendo a violência de policiais brancos contra cidadãos negros é um assunto especialmente caro a Obama – e ao imaginário que ele mesmo construiu diante do público, além da questão óbvia que diz respeito à própria identidade de Barack Obama como pessoa comum. Da mesma maneira, qualquer assunto relacionado a direitos humanos – e, claro, à transgressão desses direitos por autoridades regulares dos EUA – tem igual poder de mobilizar a presidência.
Obama é o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2009 (mais pelo o que ele representava e pelo o que se esperava dele), durante a primeira corrida presidencial viajou o mundo e lotou estádios. Fez discursos que deixaram claro que, se eleito, representaria uma importante mudança de paradigma no cenário político americano e, claro, na evidente importância que um presidente americano com valores distintos a seu antecessor teria em relação a todo o mundo. Obama prometeu em campanha que fecharia Guantánamo – o que não aconteceu até agora.
É importante dizer que a simples produção desta relatório já é uma marca relevante, um sinal de amadurecimento democrático. Documentos como este – em certa medida, como o relatório da Comissão da Verdade aqui no Brasil – mostram independência dos poderes. O governo investigando o governo. É parte do jogo democrático. Mas Obama vai precisar tomar esses dois grandes problemas para si. Porque se tratam de dois de seus grandes valores (pessoais e políticos). E transigir diante dessas duas grandes infrações não pode uma possibilidade. Não quando Obama é o presidente.
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