terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Estado judaico e democrático

Este é um momento delicado para Israel. Aliás, este é um dos piores anos de Israel desde a declaração de independência, em 1948. A guerra em Gaza, o grande número de mortos, a solução que interrompeu momentaneamente o conflito, mas fortaleceu o Hamas e não a Autoridade Palestina (AP), o crescimento do antissemitismo, o novo modelo de atentados em Jerusalém e, finalmente, a tentativa do primeiro-ministro Netanyahu de aprovar a lei do Estado Nação Judaico, que reafirma o caráter judaico de Israel.

Em Israel as questões normalmente extrapolam fronteiras. Mesmo sendo um assunto nacional, as deliberações transbordam para o Oriente Médio e para o mundo. A lei em si é desnecessária, na medida em que a declaração de independência já estabelece Israel como um Estado judeu e retomar este assunto agora, meses após a guerra em Gaza, no momento de maior tensão em Jerusalém na década e, acima de tudo, com o processo de paz estacionado, causa estranheza. Há temores de que a ideia seja relativizar a natureza democrática de Israel, justamente a característica que diferencia de forma substancial o país de todos os demais Estados nacionais da região. 

Sobrepor o caráter judaico ao democrático é desestabilizar os pilares sobre os quais Israel se sustenta. O país tem cerca de 75% de população judaica e está fundado sobre os princípios judaicos. Existe uma preocupação interna em Israel sobre a chamada balança demográfica, ou seja, a possibilidade de Israel conseguir se manter em longo prazo como um Estado judeu – um país onde os judeus sejam maioria. Esta possibilidade não vai ser alcançada por qualquer lei, mas por meio dos fatos reais. A única chance de isso acontecer é de conhecimento de todo mundo: um acordo de paz justo que permita aos palestinos constituir seu Estado na Cisjordânia e em Gaza. Israel deixou Gaza em 2005, mas é preciso também sair da Cisjordânia, onde vivem 2,6 milhões de palestinos. Um acordo de paz sério é a única maneira de Israel permanecer como em sua declaração de independência: um Estado judaico e democrático. 

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