terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A luta das minorias diante do Estado Islâmico

O Estado Islâmico pode estar a caminho de cometer mais uma de suas atrocidades. Nesta terça-feira, sequestrou 90 cristãos assírios no nordeste da Síria. É sempre uma incógnita o que o EI planeja fazer. Pode muito bem matar de maneira bárbara os reféns – o grupo se refere aos cristãos como “cruzados” – ou considerar a possibilidade de usá-los como moeda de troca em alguma negociação pela libertação de terroristas. Muito embora a decisão selvagem de queimar numa jaula o piloto jordaniano no mês passado seja a imagem mais recente do tratamento destinado a reféns, o EI já se envolveu em trocas de prisioneiros no passado. 

Sobre o rapto dos cristãos assírios é importante fazer algumas observações; a província de Hassake, no nordeste da Síria, era o lar para a maior parte dos 30 mil cristãos do país até 2011, quando a guerra civil eclodiu, causando a fuga de milhões de pessoas. Os assírios estão presentes também no Iraque, muito embora o número de cristãos no Oriente Médio esteja diminuindo bastante em função do fundamentalismo islâmico. 

A situação dos cristãos é similar a de muitos grupos minoritários na região. Esta guerra na Síria e o conflito ideológico e militar com o EI está também relacionado ao futuro das minorias no Oriente Médio. É o caso dos curdos, por exemplo. Ao contrário dos cristãos, no entanto, os curdos têm capacidade militar para enfrentar o Estado Islâmico e hoje exercem papel fundamental na linha de contenção aos avanços do grupo. No último domingo, a YPG, sigla da principal milícia curda síria, foi responsável por duas grandes ofensivas ao EI no nordeste da Síria. Esta região é o epicentro do confronto militar e graças a curdos da Síria e do Iraque – e, claro, ao apoio dos ataques aéreos das forças americanas – o EI encontra dificuldades para ampliar seus domínios. 

Os combatentes curdos do norte do Iraque também enfrentam o EI. Conhecidos como Peshmerga (cuja tradução é “aqueles que encaram a morte”), têm um efetivo de cerca de 190 mil militantes e, desde a queda do Império Otomano após a Primeira Guerra Mundial, estão organizados como as forças armadas curdas. Curdos, cristãos e yazidis têm muito a perder com a viralização da luta do Estado Islâmico. Na esteira dos acontecimentos no Oriente Médio, o destino das minorias está em jogo. E isso quer dizer, de maneira um tanto dramática, que o resultado desta sangrenta reorganização regional irá determinar a sobrevivência destes grupos minoritários. 

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