quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

As complexidades do conflito na Ucrânia

A crise entre Ucrânia e Rússia tem um aspecto curioso: como escrevi no texto de segunda, a Rússia continua a negar seu envolvimento no conflito, muito embora tenha anexado a Crimeia em março do ano passado. Quando Putin nega participação ele se refere a dois pontos específicos: a intenção de se confrontar diretamente com a Ucrânia e o envio de armamento e recursos financeiros aos grupos rebeldes que lhe são favoráveis no leste do território ucraniano. 

É pouco provável que haja alguma verdade nesta grande negação. Mas, por outro lado, ao manter sua posição, o Kremlin dificulta a busca por soluções. Se a Rússia não assume posições claras, há pouca margem de negociação. Os rebeldes querem independência da Ucrânia. É pouco provável que os ucranianos aceitem isso de bom grado. Aliás, a guerra de mais de cinco mil mortos mostra que esta posição rebelde não encontra eco entre a liderança política ucraniana. Se os rebeldes querem chegar a 100 mil soldados, o governo ucraniano já fez o mesmo, aumentando a mobilização militar. Com os rebeldes sendo armados e financiados por Moscou, a Ucrânia está muito próxima de um destino similar ao do Oriente Médio: transformar-se no palco de uma guerra por procuração, caso o governo americano de fato autorize o envio de armamento às forças regulares ucranianas. 

Existe um caminho a partir do qual a Rússia aceitaria estabelecer um compromisso final; um modelo de federalização da Ucrânia onde as províncias pró-russas tivessem mais autonomia, além de garantias de que a Ucrânia não se uniria à Otan (a aliança militar ocidental). Esta posição (que é informal, na medida em que ninguém do governo a assume oficialmente) é histórica e tem motivado os principais movimentos geopolíticos russos. O país considera necessária a manutenção de sua esfera defensiva no leste da Europa. No caso da Ucrânia, a posição russa é ainda mais determinada, muito em função da grande aproximação ocidental a Estados que os russos consideravam como parte de sua linha de proteção – Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia, República Tcheca, Letônia, Lituânia, Eslováquia e Eslovênia já são membros da União Europeia. 

O problema é que a Ucrânia rejeita a ideia de federalização, muito embora admita alguma forma de descentralização de poder. É a partir deste ponto que a negociação pode evoluir, mas desde que procuradores e patrões passem a debater abertamente. Esta é a principal dificuldade do momento. 

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