Após 17 horas de negociação, os líderes de Rússia, Ucrânia, Alemanha e França chegaram a um acordo de cessar-fogo para o conflito que já dura dez meses. É um acordo frágil e que mostra a grande dificuldade não apenas de encontrar soluções definitivas, mas também de ser colocado em prática. Há alguns pontos contraditórios que deixam dúvida se ele realmente conseguirá sobreviver aos acontecimentos no campo de batalha e às demandas contraditórias dos envolvidos. A Rússia, que sequer admitia envolvimento na guerra, acabou envolvida até o pescoço, deixando evidente a balela de que o país não participava dos eventos. O cessar-fogo entra em vigor no domingo.
Há dois itens do acordo que são muito delicados: o compromisso de descentralização das regiões rebeldes até o final do ano de 2015 e o controle ucraniano da fronteira com a Rússia também ao final de 2015. O primeiro é parte das expectativas possíveis da Ucrânia, que admitia mais autonomia às regiões pró-russas do leste, mas não a autonomia completa que os rebeldes – e a Rússia – demandavam. Aparentemente, Moscou flexibilizou esta posição, mas não se sabe como os rebeldes irão reagir no campo de batalha. O controle ucraniano da fronteira com a Rússia – atrás, portanto, das regiões separatistas – soa improvável. Nesta quarta-feira mesmo, Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores, repetia que isso soava “irreal”, pelo menos enquanto os conflitos militares prosseguissem. Ou seja, a aplicação dos acordos, mesmo agora, depende quase que exclusivamente da boa vontade dos separatistas. Mais além, depende também da disponibilidade e da capacidade russa de convencer essas regiões separatistas a repensar suas reivindicações.
O problema é que no último ano o Kremlin não apenas armou esses rebeldes, mas também endossou publicamente suas demandas por autonomia quase completa (os motivos pelos quais a Rússia incentiva esta posição estão expostos nos textos anteriores). Imagino que deverá ser complicado convencer os rebeldes do contrário após um ano de insuflação de propaganda política, nacionalismo e teorias conspiratórias cujos protagonistas seriam justamente ucranianos e ocidentais (o acordo foi forjado também por França e Alemanha, nunca é demais lembrar).
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