A confusão política instalada na Grã-Bretanha reflete o modo como seus dois maiores partidos enxergam o futuro do Reino Unido num mundo dividido por novas potências. Mencionei o assunto ontem e decidi dar continuidade a ele na medida em o debate britânico sobre o Tratado de Lisboa é ponto fundamental para moldar esta nova configuração das relações internacionais.
“Eurocêntricos” e “Eurocéticos”, como têm sido chamados, são os grupos que são favoráveis ou contrários à ratificação britânica do documento. O assunto tem sido discutido de maneira tão apaixonada justamente porque os rumos a serem seguidos têm um pouco de déjà vu para os ingleses. Afinal, há a real possibilidade de Tony Blair, primeiro-ministro entre 1997 e 2007, vir a se tornar o presidente europeu.
E, é claro, por si só a indicação de Blair já causa um grande desconforto ao Partido Conservador – os Tories, como são chamados.
O problema é que os Tories são apontados pelas pesquisas atuais como favoritos nas eleições de maio do ano que vem – lideram com 12 pontos.
David Cameron, líder do Partido Conservador e virtual primeiro-ministro no caso de uma vitória da legenda, não apenas é contrário à ratificação britânica, como ameaça convocar um referendo sobre o tratado quando assumir o cargo. O impasse europeu pode vir à tona uma vez que é bem possível que o Tratado de Lisboa entre em vigor até o final do ano – com as adesões de Polônia e República Tcheca. Mas como convocar o pleito com o tratado já em vigor? Ao que tudo indica, esta vai ser uma longa e complexa briga jurídica.
Este promete ser o próximo grande fator complicador a tomar conta da política europeia. Acho que vale explicar o assunto, já que evidencia a tendência de discussões internas do bloco.
Talvez ainda nostálgicos por um mundo em que o poder decisório estava restrito a alguns poucos países, a discussão britânica reflete um pouco desta balança cada vez mais pendente para os Estados emergentes. No caso específico da Grã-Bretanha, é curioso notar que artigo de Roger Boyes, do Times de Londres, defende a posição exposta aqui no texto de ontem: ou a UE se torna uma entidade supranacional também em questões relativas à política externa ou sua voz vai se tornar menos importante no cenário internacional.
A discussão envolvendo a disputa torna-se ainda mais marcante no Reino Unido, justamente por extrapolar para o cenário europeu a eterna briga entre conservadores e trabalhistas.
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