A verdade é que em meio a tantas questões internacionais tão palpitantes, não houve espaço para repercutir a decisão irlandesa confirmada no sábado de ratificar o Tratado de Lisboa, assunto já amplamente discutido anteriormente por aqui por conta das votações prévias na Europa. Como acho que a função do blog também é lançar luz sobre o que não foi abordado pela imprensa convencional, é importante contextualizar este fato.
Até porque penso que a ascensão brasileira e a mudança na configuração das relações internacionais explicam em parte a adesão irlandesa.
Em primeiro lugar, não custa lembrar que o Tratado de Lisboa tem com objetivo substituir a Constituição Europeia e criar novos aparatos de defesa e – olha aí! – relações exteriores, além de instituir um mandato mais longo para um presidente do Conselho Europeu.
Uma grande disputa política está esquentando o continente. Os empregos de presidente e ministro das relações exteriores envolvem uma briga de cachorro grande – é possível que Tony Blair seja escolhido para o cargo de presidente, mas não sem antes enfrentar o desgaste de uma grande discussão britânica sobre o assunto.
O que impede que a reforma aconteça imediatamente é uma cláusula simples, mas que prevê a aceitação do Tratado de forma unânime pelos 27 países da União Europeia. Até agora, foram
A discussão é grande. Editorial do Irish Times, da Irlanda, logo após o fim do referendo que terminou por apoiar o “sim” mostra bem a importância que recai sobre a decisão.
“Ela reafirma o quanto o povo irlandês está entre os mais entusiasmados defensores do projeto europeu. Os irlandeses entendem que nosso destino se encontra na UE, ainda mais em meio à mãe de todas as crises”.
Este é um ponto importante. Exatamente como mencionou o secretário de relações exteriores britânico, David Miliband:
“Não deve haver um G2 entre Estados Unidos e China, mas um G3 contando com a UE”.
Ou seja, num mundo em mutação, aprovar o Tratado de Lisboa é urgente ao projeto europeu de permanecer como um ator único, importante e com poder de barganha suficiente para encarar novas potências, como os BRICs, por exemplo. Isso ficou ainda mais claro após o último encontro do G20. Não haverá mais um cenário onde questões relevantes sejam decididas apenas entre os países europeus e os EUA ou mesmo entre estados do hemisfério norte.
Até porque, o foco está sobre recursos, população, clima, potencial econômico. E não há como discutir esses assuntos sem convidar os países em desenvolvimento para a mesa. A rapidez para aprovar o Tratado de Lisboa a toque de caixa mostra bem como, fragmentados, os países europeus podem e serão cada vez menos importantes neste novo mundo. E os dirigentes da UE estão desesperados quanto a esta possibilidade.
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