Enquanto ontem comentei sobre como a Rússia decidiu usar seus recursos naturais de forma a alavancar a política externa, acho também que vale mencionar o outro lado da moeda. E, inesperadamente para muita gente, são os países que detêm o petróleo que devem correr atrás de novas formas de manter o alto padrão econômico do qual dispõem hoje.
O cartel que responde pelo nome de Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) está em desespero. E os motivos são óbvios: a necessidade de combater o aquecimento global obriga governos a forçar indústrias a reduzir na marra a emissão de gás carbônico na atmosfera.
Com isso, novos e menos poluentes combustíveis passam a ser objeto de desejo.
E também, como as reservas de petróleo têm prazo de validade, é preciso diversificar a dependência. Sim, porque acabar com a dependência de fontes energéticas é praticamente impossível.
Assim, a Rússia joga com o gás; o Brasil comemora o pré-sal e também tenta tornar viável o biodiesel; e por aí vai.
Durante mais uma rodada de conversações sobre o clima realizada nesta semana em Bangcoc, na Tailândia, a Arábia Saudita partiu rumo ao estabelecimento de alianças. Mais do que isso, expôs o temor dos países da OPEP de que, a partir do pacto que demanda a redução no uso de combustíveis fósseis, esses governos não tenham alternativas para se manter economicamente.
Antes de avaliar este pedido saudita, vale citar que o país é o mais detentor de reservas de petróleo do mundo. Também é preciso dizer que um relatório divulgado nesta semana pela Agência Energética Internacional (IEA, sigla em inglês) informa que as receitas dos membros da OPEP irão aumentar 23 trilhões de dólares no período entre 2008 e 2030. Isso mesmo; 23 trilhões de dólares.
Realmente entendo a preocupação dos países que controlam o mercado petrolífero internacional.
Mas de nenhuma forma me sensibilizo com ela. E a explicação é muito simples: ora, a OPEP existe desde 1960 e seus países sabiam que um dia a reserva acabaria. Por que então não usaram parte dos milionários lucros gerados por este negócio para investir em infraestrutura, diversificar a economia e, portanto, preparar-se para o dia em que não poderiam mais contar apenas com o petróleo?
A resposta é simples: porque boa parte das oligarquias reais que controla alguns desses países preferiu usar os lucros do petróleo para ostentar riqueza. Esta elite econômica e política – de parte dos países, é preciso deixar claro – não se preocupou em reinvestir o dinheiro em suas economias.
Mas, como mostra o relatório da IEA, há tempo para rever o erro. Afinal, nada mal ter um prazo de ao menos 21 anos para planejar e pôr em prática as mudanças estruturais necessárias. Ou será que alguém teria a cara-de-pau de propor um fundo de assistência para ajudar os países da OPEP?
2 comentários:
Depois de verem as grandes corporações financeiras mundiais passarem o chapéu, será que os membros da OPEP vão ruborizar se tiverem de socializar as perdas? Acho que o Celso Furtado acharia no mínimo irônico assistir a um malabarismo de limões sauditas.
Exatamente, Carol. Acho que este é o ponto. A crise financeira a que assistimos mostrou como nada é impossível; os países ricos criaram um sistema de especulação global e quando ele ruiu esses mesmos países quiseram nos empurrar os prejuízos. Penso que agora o mundo está caminhando lentamente - mas está - rumo ao balanceamento das resoluções financeiras. E isso se deve muito às recentes decisões na OMC, por exemplo, e à tendência de discutir soluções em organismos multilaterais.
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