Os primeiros resultados das eleições egípcias não são nada animadores ao Ocidente. O islamismo político obteve 60% dos votos, provocando um clima de desapontamento e preocupação pelo menos entre EUA e União Europeia. Não é possível dizer, no entanto, que esta situação seja surpreendente. Vitoriosa na Tunísia e amplamente popular graças à Turquia, a união entre religião e política aparece como o grande modelo de sucesso entre esses países que acabaram de derrubar seus ditadores históricos.
A equação encontrada pela Turquia é sonho de consumo não simplesmente pela forma como promove uma maneira de manter o islamismo aliado à democracia. Longe disso. O governo de Ancara é líder regional indiscutível e o primeiro-ministro Erdogan é a figura política mais popular nos países muçulmanos. Todas essas características não podem simplesmente ser esquecidas quando se pensa em alguma forma de análise quanto ao futuro do Egito. No entanto, é bom que se diga que não necessariamente a Irmandade Muçulmana aplicará o modelo turco – o que, diante das demais alternativas, seria de bom grado a EUA e UE.
Agora, em relação à ascensão política da Irmandade Muçulmana: é um fato que desaponta por conta também de uma visão um tanto inocente da imprensa ocidental. Todos acreditavam que a queda de Mubarak seria sucedida por um governo democrático nos moldes de França, EUA, Brasil etc. A democracia não resolve todos os problemas e ela não é resposta a tudo. Todo mundo acreditou que a democracia egípcia seria seguida também pelo respeito às liberdades individuais e aos direitos humanos. Este pensamento é lógico no Ocidente pela simples razão de que a ideia de um regime democrático jamais é dissociada desses valores.
Todos parecem se esquecer da ascensão política do Hamas por meio de eleições democráticas palestinas em 2006. O simples processo eleitoral democrático não garante absolutamente nada. E é exatamente isso o que ocorre no Egito neste momento. A Irmandade Muçulmana recebeu, por ora, 37% dos votos; os salafistas – que defendem, dentre outras iniciativas, a adoção de impostos adicionais aos cristãos egípcios pelo simples fato de eles não serem muçulmanos – estão em segundo lugar com 24%. A massa de gente que brigou na Praça Tahrir causou uma ilusão coletiva de que o Egito estava pronto para se tornar um Estado laico e democrático. Por ora, as urnas mostram que esta não é a vontade popular. Tanto que o partido liberal Bloco Egípcio conquistou somente 15% dos votos.
O melhor a fazer neste momento é justamente esperar e ver o que deve acontecer. Acredito que mesmo um governo liderado pela Irmandade Muçulmana deverá tentar algum tipo de acomodação com os ocidentais. Principalmente porque, como escrevi, o Egito conta com três bilhões de dólares em ajuda anual dos EUA. Não me parece que o sucessor de Mubarak poderá abrir mão desta quantia. Atualmente, o turismo está parado (por motivos óbvios), o país perde um bilhão de dólares por mês em reservas cambiais e 25% dos jovens estão desempregados. Este é um cenário que praticamente obriga qualquer líder a deixar ideologias de lado e a pensar de maneira pragmática.
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