A morte do ditador norte-coreano, Kim Jong-il, não tem absolutamente nada a ver com a Primavera Árabe. Mas, em meio a tantos eventos internacionais importantes, acho bem curioso que o regime mais fechado do planeta perca o seu “Querido Líder” – seu vocativo compulsório no país – justamente neste ano. Admito ser um tanto forçado fazer comparações mais profundas entre os acontecimentos no Norte da África e no Extremo Oriente, mas este é um período de simbolismos, correto?
Nada mais simbólico que o vácuo momentâneo deixado pelo mais esquizofrênico dos líderes mundiais. Perto da Coreia do Norte, Cuba, Irã e Arábia Saudita são acampamentos de verão. Se a morte de Kim Jong-il encerra um ano marcado pela queda de algumas das ditaduras mais consolidadas do mundo, é preciso lembrar também que a “revolução” alardeada pela imprensa internacional ainda não aconteceu em países importantes como Egito e Síria.
Curioso também é assistir à reação internacional ao evento mais importante da Coreia do Norte. Há expectativas quanto ao jovem ditador que está para surgir; ninguém pode afirmar o que vai ser do país sob o comando de Kim Jong Un, o rapaz de 29 anos de idade , filho de Kim Jong-il e que deve ser seu sucessor. Sabe-se que recebeu uma parte da educação no Ocidente, numa escola de alto padrão na Suíça. Mas 2011 e a história recente das ditaduras globais não permitem a associação entre este fato e qualquer possibilidade de abertura: Bashar al-Assad, o presidente sírio que comanda um governo responsável pela morte de cerca de 5 mil de seus próprios cidadãos, é formado em medicina, estudou e fez residência em Londres, nos anos 1990; Saif al-Islam, o filho mais conhecido de Kadafi, estudou na prestigiada London School of Economics.
É importante notar também as distintas abordagens dos governos ao regime norte-coreano. Os ocidentais querem novas negociações e esperam interromper o ciclo nuclear de Pyongyang. Há informações, inclusive, de que os EUA teriam conseguido autorização para novas inspeções de funcionários da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em troca do envio de 240 mil toneladas de alimentos à Coreia do Norte. O comunicado da China, a potência que não permite interferências no Mar da China e principal aliada de Kim Jong-il, tem conteúdo bastante distinto: “o povo continuará a avançar na causa do socialismo norte-coreano”. Pois é.
Em meio a essas slogans, é preciso ser claro e dizer que a população está faminta e desempregada. Se Kim Jong Un tiver um pouquinho mais de humanidade que seu pai, abrirá o país e tentará desenvolver indústrias e empresas.
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