segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Rússia: está na hora de Putin e Medvedev pegarem leve

Os resultados das eleições parlamentares na Rússia mostram um quadro desfavorável a Putin e Medvedev – respectivamente, primeiro-ministro e presidente do país. Os aliados que se revezam no poder há quase 12 anos sofreram um revés que tem sido classificado pela imprensa internacional como humilhante. A Rússia Unida (RU), a legenda de ambos, recebeu pouco menos de 50% dos votos. Ainda é um número expressivo, mas aponta redução de 77 cadeiras na Duma, o parlamento russo, forçando o partido a formar coalizões com os demais.

Na prática, o processo eleitoral do país tem repercutido também pelas evidências de fraude. Jornalistas russos denunciam ter visto grupos de partidários do RU votarem mais de dez vezes; há vídeos e imagens postados no Facebook e Youtube mostrando coerção oficial a eleitores e urnas violadas. Observadores europeus não avalizaram as eleições por todas essas razões.


Diante de tudo isso, mesmo os pouco menos de 50% conquistados por Putin e Medvedev representam uma marca muito boa para eles. Se fosse possível extrair um resultado limpo, no entanto, é bem possível que o RU obtivesse uma votação bastante inferior. Seja como for, os dois líderes estão assimilando o recado. Por mais insistentes que sejam, por mais autoconfiantes que se apresentem diante do público, vão sentir o golpe das urnas. O próximo desafio é a campanha presidencial cujas eleições estão marcadas para março do ano que vem. Alguém tem dúvidas de quem será o vencedor?

Na Rússia não há este tipo de questão. Putin não apenas apresentou sua candidatura, como também anunciou que será o próximo presidente. De novo. Neste cenário, o agravamento da polarização entre o futuro chefe de governo e a população pode precipitar um movimento urbano bastante similar ao da Primavera Árabe. Uma das grandes lições deste ano diz respeito justamente ao limite da pressão exercida sobre os insatisfeitos. Governantes que pretendem se estabelecer em seus cargos – não simplesmente ocupá-los por tempo determinado – passaram de temidos a desafiados. A votação na Rússia neste domingo reafirma esta mensagem.

Agora, Putin e Medvedev têm duas alternativas: ou pegam leve na repressão a jornalistas, dissidentes e membros da oposição ou mantêm a repressão atual e correm o risco de aprofundar o clima de impaciência vigente (principalmente em Moscou e São Petersburgo). E 2011 não parece um ano aconselhável para isso.

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