O distanciamento entre o Irã e o Ocidente chegou a seu momento mais agudo nesta semana. A invasão à representação diplomática britânica em Teerã é o ponto mais flagrante de uma relação que tem piorado ano após ano. Não se pode descontextualizar o momento, por isso é importante deixar claro que os iranianos estão especialmente incomodados não somente com as sanções, mas também com medidas “paralelas” tomadas pelos potências ocidentais para frear seu programa nuclear.
Vamos às mais relevantes: a sabotagem por computador das centrífugas de enriquecimento de urânio, os assassinatos de três cientistas nucleares do país e uma explosão ocorrida na última semanada na cidade de Isfahan que acabou por matar um general diretamente envolvido no desenvolvimento balístico. Todos esses eventos – ainda não esclarecidos – estão relacionados à guerra indireta que já está em curso. A escalada de acontecimentos, no entanto, deixa em aberto quais serão os próximos passos deste conflito cada vez menos silencioso.
O que fica claro, pelo menos por ora, é que o Irã está mais isolado da comunidade internacional do que nunca. Isso também se deve ao contexto regional: a Síria está envolvida com seus muitos problemas; e a Turquia parece ter rompido com Teerã pela razão óbvia de que os dois países estão mais para competidores pelo protagonismo no Oriente Médio do que para aliados. Os turcos estão muito preocupados com a situação na Síria por conta da crise humanitária no vizinho e também porque temem a possibilidade mais real do que nunca de fragmentação do Estado Sírio – o que deixaria os curdos em polvorosa e com chances reais de criação de seu país.
Curiosamente, a estratégia de isolamento sempre foi constante no discurso e nas práticas do próprio presidente Ahmadinejad. Direcionada a Israel, as táticas eram compartilhadas com os turcos e atingiram seu ponto alto com o episódio da “Frota da Liberdade”, no final de maio do ano passado. O problema para os iranianos é que, por conta da divulgação do relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o mundo voltou olhos e esforços para a iminente produção de armamento nuclear pela República Islâmica. E os iranianos reagem mal, muito mal, às pressões internacionais.
A tomada da embaixada britânica é uma retaliação. O problema para o Irã é que este tipo de operação serve apenas para deixar seus aliados ainda mais constrangidos. China e Rússia, por exemplo, se uniram ao uníssono coro internacional de condenação – o que é muito raro, diga-se de passagem. No entanto, as autoridades de Teerã parecem estar mais preocupadas no momento em conseguir uma espécie de união nacional. Isso é muito ruim porque dá a impressão de que o país se prepara para eventos externos graves e também porque distancia ainda mais os iranianos da comunidade internacional, deixando o caminho aberto para a eleição de um previsível governo ainda mais radical e nacionalista do que o representado pelo presidente Ahmadinejad.
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