O pedido do presidente Barack Obama para o Irã devolver o avião não-tripulado capturado no último dia 4 é o símbolo máximo da ingenuidade de Washington. Ou então de uma sagacidade ainda incompreendida por todo mundo. Como não acredito que a política externa da maior potência mundial é construída sobre esses pilares, fico com a posição de que a Casa Branca quer, mais uma vez, demonstrar não estar disposta a levar adiante qualquer tipo de confronto mais aprofundado com Teerã.
Isso porque, como escrevi na última semana, os americanos sabem que o momento atual é de disputa interna na República Islâmica. E a guerra política por lá pode ter consequências regionais ainda mais profundas. Se com Ahmadinejad na presidência é ruim, com Qassam Suleimani, comandante da Guarda Revolucionária, a situação pode e deve ser pior. Talvez isso explique, em parte, a acomodação dos EUA neste caso – até porque, por mais que haja riscos de a inteligência iraniana extrair dados militares americanos deste avião, ao que parece esses riscos são mínimos; trata-se de um equipamento que envia imagens para quem o opera em terra, mas não armazena informações em quantidade significativa.
É provável que a perda do avião seja um mal menor para os americanos. Que Ahmadinejad leve esta vitória política, que sirva ao menos para impedir Suleimani de ganhar ainda mais força. Este raciocínio pode parece absurdo, mas vale lembrar que, quando se trata do Irã, Obama tem optado por acomodar a situação, empurrando o quanto pode qualquer definição mais clara. E vai fazer isso pelo menos até as eleições presidenciais de 2012.
O problema desta estratégia silenciosa é justamente fornecer munição política ao Partido Republicano. O que Obama espera que seja esquecido certamente será usado nos debates do ano que vem. Os republicanos vão tomar o caso do avião não-tripulado como o símbolo máximo da capitulação Democrata diante da República Islâmica. E, não se enganem, este é o tipo de retórica bastante poderosa nos EUA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário