Está na hora da virada do ano. E não se pode dizer que 2011 seja um desses anos que passarão batidos pela História humana. Definitivamente, este é um daqueles momentos em que pudemos notar as páginas sendo escritas. E o que torna tudo muito único e especial é que os acontecimentos se tornaram populares. Não apenas os protagonistas da maior parte deles são, em sua maioria, pessoas comuns, mas também os consumidores de informação globais são pessoas comuns.
O fato mais relevante foi, sem dúvida, a Primavera Árabe. Como escrevi ao longo dos posts, a tal “revolução” ainda não se concretizou. É, por ora, apenas um clichê bacana adotado pela imprensa internacional. Ninguém pode prever o destino do mais populoso dos países árabes, o Egito, mas o que aconteceu por lá reverberou regional e globalmente. Foi a primeira vez que manifestantes não filiados a partidos ou movimentos islâmicos tomaram as ruas exigindo a queda do regime, democracia, liberdade, eleições limpas e, principalmente, oportunidades para construir um país mais justo. A Praça Tahrir se transformou em símbolo da indignação popular mundial e também do constrangimento das potências ocidentais.
Afinal de contas, os mesmos países que consideravam as ditaduras árabes do Oriente Médio e do Norte da África como fato consumado – e se aliaram a elas, vale lembrar – tiveram de dar meia-volta e se expor diante de todo o mundo. E por conta disso o presidente Barack Obama decidiu invadir a Líbia. É claro que houve manifestações populares por lá também. E é claro que Kadafi deu aos rebeldes o tratamento padrão destinado aos opositores. E este foi seu maior erro. A guerra travada contra os próprios cidadãos se transformou na justificativa perfeita para os EUA embarcarem no bonde certo da Primavera Árabe. Assim, com mais dificuldade do que se imaginava, a coalizão que armou rebeldes, promoveu ataques aéreos e acabou por criar um modelo de intervenção quase antiséptica, derrubou Kadafi e entregou a Líbia numa bandeja de prata a sabe-se lá quem. Entre os rebeldes há de tudo um pouco: ex-membros do próprio governo Kadafi, representantes das tribos líbias e até jihadistas islâmicos.
No ano de 2011 o mundo assistiu a um fato raro; os acontecimentos da rua árabe influenciaram movimentos similares no Ocidente: os indignados na Espanha, na Grécia e até o movimento Occupy Wall Street, em Nova Iorque (que por sua vez rendeu outros tantos protestos populares em diversas cidades americanas). Esta é uma mudança importante que mostra também a grande virada que já está em curso: a do eixo de poder internacional. Se as potências ocidentais não deverão deixar de usufruir de poder global, as graves crises econômicas nos EUA e na Europa forçaram um recuo desses países. E as circunstâncias acabaram muito favoráveis aos emergentes, principalmente ao Brasil, que termina 2011 com a notícia de impacto global de ter tomado da Grã-Bretanha a sexta colocação no ranking das maiores economias do planeta. Definitivamente, este foi o ano de grandes e profundas mudanças de paradigma.
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