Se o reconhecimento do Estado palestino pela ONU irá influenciar decisivamente as eleições israelenses de janeiro, somente o tempo dirá. O fato é que, ao contrário do que se possa imaginar, a sociedade israelense apoia em grande escala a solução de dois países para dois povos. Pesquisas realizadas continuamente mostram que dois terços consideram a criação da Palestina pacífica ao lado de Israel a chave para resolver o conflito. Percentual similar também é encontrado entre os palestinos. A convergência de opiniões das pessoas é o reconhecimento da realidade prática: nem israelenses deixarão seu país, nem os palestinos desistirão de ter um Estado próprio.
No entanto, o lugar-comum – que é verdadeiro – mostra que a política e seus representantes se interpõem para viabilizar o fechamento deste ciclo vicioso. Mas a reivindicação do presidente Mahmoud Abbas na ONU é uma oportunidade para resolver alguns impasses: o primeiro deles é a interrupção de negociações diretas. Não há motivo para não retomar o diálogo mútuo. Como escrevi em meu último post, reconhecer o protagonismo da Autoridade Palestina e suas ambições não significa somente respeitar os Acordos de Oslo, de 1993, mas também legitimar a única entidade palestina que abertamente entende a solução de dois Estados para dois povos como a única possível.
A guerra recente entre Hamas e Israel serviu de combustível a radicais de ambos os lados. Ao Hamas, a legitimidade que buscava, muitas conquistas políticas internacionais e a possibilidade de silenciar o crescente movimento interno de apoio ao Fatah, do presidente palestino Mahmoud Abbas (antes do conflito com Israel, pesquisas mostravam que, mesmo em Gaza – território do qual a Autoridade Palestina foi expulsa pelo Hamas em 2007 – a popularidade do Fatah era de 40% contra 22% do Hamas, índice superior ao observado na Cisjordânia, inclusive).
Ao mesmo tempo, o Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, é sustentado no Knesset, o parlamento israelense, graças a uma coalizão de partidos de direita e de ultraortodoxos que apoiam a manutenção dos assentamentos na Cisjordânia. O congelamento das negociações com a Autoridade Palestina é uma maneira de não ter de lidar com essas questões e implodir a coalizão. Netanyahu sabe que os partidos que o sustentam no cargo deixariam o governo no minuto seguinte a uma eventual promessa de desmantelamento dos assentamentos. Por essa aliança partidária, quanto mais tempo ganhar, quanto menos a questão palestina estiver sobre a mesa, maiores são as chances de permanecer à frente do governo israelense.
Justamente por isso, a vitória palestina na ONU pode trazer o assunto novamente ao centro da discussão política em Israel. Até o momento, a única a se pronunciar abertamente sobre isso e prometer retomar as negociações como plataforma central de candidatura foi a ex-ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni. Até há pouco filiada ao Kadima – partido cuja plataforma é o pragmatismo político –, fundou o seu próprio partido, HaTnuá (O Movimento). A partir de agora, é possível que o tema volte a ocupar os partidos e a ser discutido seriamente na campanha – o que possivelmente irá alterar o cenário confortável usufruído até então pelo Likud de Netanyahu.