Em primeiro lugar, peco desculpas aos leitores pela demora em escrever, mas isso se deve ao fato de estar distante da estrutura necessaria para postar com a frequencia que o momento demanda - o que tambem explica a precariedade dos recursos ortograficos deste texto. Mas vamos ao que interessa; a ofensiva israelense em Gaza e a insercao dos acontecimentos atuais no tabuleiro geopolitico do Oriente Medio.
Ao contrario da cobertura pontual da grande imprensa, estou sempre preocupado em contextualizar as acoes dos atores regionais em perspectiva, levando em consideracao seus interesses estrategicos. O novo embate entre Israel e Hamas deve ser interpretado desta forma, muito alem de mais um ato isolado. Politica internacional e sua expressao militar - a guerra - nao costumam acontecer por meio de bravatas, discursos ou gestos apaixonados. Muito pelo contrario. E claro que a ofensiva atual tem a ver com o risco de cerca de um milhao de habitantes do sul de Israel, quase 15% da populacao total do Estado judeu. Mas nao e so isso. Os moradores desta regiao do pais sofrem com a ameaca do misseis do Hamas ha muito tempo, e a ofensiva de Israel no final de 2008 nao conseguiu destruir a infraestrutura de lancamento do grupo palestino que passou a controlar o territorio no ano anterior.
Na semana passada, um jipe do exercito israelense foi atingido durante uma patrulha de rotina no interior das fronteiras israelenses. Tratava-se de uma operacao de rotina nas proximidades de Gaza. Por mais estranho que pareca, este pequeno ato carrega em si um significado muito maior; do ponto de vista geopolitico, ele representa um movimento de medicao de forcas pelo Hamas bastante similar ao crescimento continuo do Hezbollah, no norte de Israel, sul do Libano, que consolidou a milicia xiita como um importante ator regional do Oriente Medio. Ate o ano 2000, Israel manteve uma zona de ocupacao no sul do Libano, isolando minimamente o Hezbollah de porcao importante de sua fronteira norte. Por pressao interna da sociedade israelense, as forcas militares foram retiradas e Israel desocupou o sul do territorio libanes unilateralmente. Imediatamente, a milicia xiita passou a controlar a area e usa-la como base de operacoes. Seis anos mais tarde, Israel e o Hezbollah travaram uma guerra de 34 dias que permitiu ao grupo libanes, apoiado logistica e financeiramente pelo Ira, alcancar um de seus objetivos estrategicos: estabelecer-se como um ator regional a ser levado em consideracao em qualquer cenario atual do Oriente Medio.
A atual ofensiva de Israel tem como meta conter a expansao do Hamas, principalmente por conta da realidade egipcia pos-Primavera Arabes, cujos resultados eleitorais deram a presidencia do pais justamente a Irmandade Muculmana - fonte de inspiracao ao nascimento do proprio Hamas, em 1987. Na pratica, tanto Israel quanto o grupo radical palestino estao colocando em teste o papel da Irmandade Muculmana neste novo Oriente Medio.
O grande teste fica sobre os ombros de Mohamed Mursi, chefe politico da Irmandade Muculmana no Egito e eleito presidente do pais. Um dos principais pilares da fragil estabilidade regional, o Estado egipcio, o maior pais arabe, esta sendo chamado a se manifestar. Ao mesmo tempo em que a Irmandade Muculmana possui obvia identificacao com o Hamas, o grupo deixou a clandestinidade dos anos de regime Hosni Mubarak e passou a formalidade de ser parte integrante da formalidade e das burocracias impostas por esta transicao. Por mais ideologico que seja, o presidente Mursi agora nao pode virar as costas ao principal aliado financeiro do pais, os EUA, nem aos acordos de Camp David, assinados em 1979 e que selaram a paz com Israel. Ou melhor, a pressao atual quer que o Cairo faca sua opcao. No entanto, e bom lembrar que, se rasgar os acordos com os israelenses, e pouco provavel que os americanos continuem a repassar os tres bilhoes de dolares em ajuda financeira ao Cairo.
E tudo isso que esta em jogo agora no Oriente Medio.
Um comentário:
E quem paga o preco sao os cidadaos dos dois lados. A unica vantagem no momento dos cidadaos israelenses eh que o governo nos defende com um sistema de sirenes, bunkers e agora a "Iron Dome" que intercepta misseis no ar. Tenho pena das pobres familias arabes de Gaza sofrendo com os ataques e sem protecao nenhuma dos seus "governantes", sendo obrigados a cooperar com o Hamas. Essa "operacao" soh vai trazer mais uma geracao de odio a Israel e talvez, com sorte, mais alguns anos de calmaria. Infelizmente o governo "Bibi" nao fez suficiente esforcos politicos em prol de um cessar fogo permanente,
Postar um comentário