sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Nos EUA, reforma migratória passa a ser prioridade republicana


A ressaca moral e política republicana dá o tom do momento exatamente posterior à derrota do partido nas urnas. Se uma mensagem ficou clara o bastante no dia seguinte à reeleição de Barack Obama, ela diz respeito ao caminho demográfico inevitável dos EUA. Como escrevi ao longo deste processo desgastante de campanha partidária, ignorar a realidade não é uma forma de alterá-la. O partido Republicano está sentindo isso na pele. 

Agora, a chapa Romney-Ryan é história. Possivelmente, se as ambições do partido de retomar a Casa Branca forem sérias, - e certamente são -, o purismo de dois candidatos identificados com o país que não existe mais – ou melhor, existe na memória e na minoria da representação demográfica – não deve se repetir. Mesmo os mais republicanos dos comentaristas políticos tiveram de admitir a necessidade de mudança interna; ou a legenda se adequa para conseguir minimamente se comunicar com as pessoas ou está fadada, invariavelmente, à derrota. E é a partir desta constatação que os republicanos já pensam no senador pelo Estado da Flórida Marco Rubio como o nome a ser lançado em 2016. 

É uma boa aposta, mas não garante vitória. Primeiro, será preciso mudar o discurso. Enquanto os republicanos não pensarem numa forma de encarar a questão da imigração de maneira mais flexível, os latinos não irão votar num partido que chegou a propor, inclusive, “autodeportação”. Pois é. Ninguém vai votar em quem defende a deportação de um primo, de um tio, de um amigo. Mesmo que Obama tenha sido um dos presidentes mais rigorosos quanto à fiscalização e policiamento da fronteira com o México, ao menos consegue se apresentar como liberal. E acho mesmo que o presidente irá pensar numa reforma, mesmo tendo de enfrentar a resistência de uma Câmara dominada pelos republicanos. Mas, se até o porta-voz da casa, o nada liberal John Boehner, já disse que o assunto deve andar, é capaz mesmo de a tão discutida reforma migratória sair do papel. 

Acredito que, inclusive, este será um dos grandes temas dos próximos quatro anos de mandato de Obama. Justamente por conta desta constatação eleitoral de que não é mais possível ignorar a nova cara dos EUA. Para azar dos republicanos, no entanto, a situação é de cobertor curto. Se contarem somente com a origem do senador Marco Rubio, ainda não terão resolvido o problema. Principalmente porque são os asiáticos, não os latinos, que compõem a minoria com os maiores índices de crescimento. 

De fato, acho que a declaração de John Boehner – reconhecido por sua inflexibilidade – não é de graça. Ele e os republicanos mais ambiciosos politicamente sabem que, além de mudar o discurso, será preciso tomar medidas práticas. E aí voltamos à reforma migratória. Se este assunto era visto pelo partido como tabu, agora seus membros mais sagazes perceberam que esta se configura como a principal oportunidade republicana de renascimento.

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